“Lavoura
de Corpos”, da escritora Patrícia D. Cornwell, começa quando o corpo de Emily
Steiner, uma garota de 11 anos, é encontrado à beira de um lago na pacata
cidadezinha de Black Mountain, na Carolina do Norte. A violência do caso abalou
a comunidade local e muitos indícios do caso são semelhantes a crimes cometidos
anteriormente pelo serial killer Temple Gault. No entanto, como Gault poderia
ter atacado nos Estados Unidos se havia sido visto há pouco tempo na Europa? O
paradeiro do assassino estaria errado ou a morte de Emily Steiner teria sido cometida
por um imitador?
Para
resolver o enigma, o FBI é chamado, e a Dr. Kay Scarpetta, médica legista e
advogada, profunda conhecedora das obras de Gault, assume a investigação
juntamente com o Capitão Pete Marino, policial experiente em homicídios e
parceiro de longa data da Dra. Scarpetta. Também fazem parte da equipe Benton
Wesley, chefe da unidade e especialista em análise comportamental, o Tenente
Hershel Mote, policial de Black Mountain designado e que está às vésperas da
aposentadoria e Max Ferguson, investigador de meia-idade do Departamento
Estadual de Investigações.
Paralelamente
ao caso Steiner, a Dra. Scarpetta ainda tem que ligar com a acusação de roubo
de informações confidenciais de sua sobrinha Lucy, jovem de 21 anos que
estagiava no Departamento de Pesquisa de Engenharia do FBI. Lucy é como uma
filha para Scarpetta, e foi por meio da tia que a garota foi aceita no FBI para
desenvolver um programa de identificação e busca de suspeitos (CAIN). Embora não
queira duvidar da inocência de Lucy, Scarpetta sente-se acuada e confusa devido
ao modo estranho como Lucy vinha agindo, somado aos problemas com bebida que
começavam a surgir e a evidências que colocam a jovem no local do roubo em uma
hora em que não deveria estar vagando pelo laboratório.
O
livro é bem descritivo e prende a atenção. Para quem é fã de
histórias policiais e de séries de investigação como “CSI” e “Criminal Minds”,
é um prato cheio. Apesar dos diversos personagens e das várias subtramas que
surgem no decorrer da história, é um livro fácil de ler. Para mim, o mistério
sobre o assassino de Emily não durou até o final, pois já antipatizei logo com
a dissimulação de alguns personagens, e, no fim, meus instintos de detetive
estavam certos. Talvez seja justamente pelo fato de eu assistir a muitas séries
investigativas e de ser grande apreciadora do gênero policial, não sei...
A
personagem da Dra. Scarpetta é apaixonante: inteligente, bonita, mas não
vaidosa, perspicaz, valente, do tipo que não leva desaforo para casa e que sabe
se impor em um meio de trabalho predominantemente masculino. Há um triângulo
amoroso formado por Scarpetta, Marino e Wesley. Marino, rejeitado por
Scarpetta e ainda sem ter superado a separação da ex-mulher, é um poço de
amargura. Suas discussões com Scarpetta são frequentes e o sarcasmo dá o tom:
“Sabe, não entendo qual é o seu problema, porra. Está deixando que as coisas
fujam do controle, perdendo a manha. Talvez seja a menopausa”.
“Se é a menopausa ou qualquer outra questão pessoal, não é da sua conta. E
saiba que não pretendo discutir nada disso com você. Entre outros motivos, em
função de sua falta de tato tipicamente masculina e de sua sensibilidade de
mourão de cerca – que pode ou não ter a ver com seu sexo, devo admitir, para
ser justa. Não acredito que todos os homens sejam iguais a você. Se achasse,
teria desistido deles completamente”.
(página
104)
A
descrição da fazenda de corpos (ou “lavoura”, como é chamada no livro) é outro ponto que merece destaque:
“Acompanhei
os dois homens ao seu bizarro porém indispensável domínio. O cheiro não
incomodava tanto assim, pois o ar estava muito frio e a maioria dos cadáveres
já passara pelos piores estágios. Mesmo assim, as visões eram tão anormais que
sempre me faziam parar. Vi uma carroça de transportar corpos, parada, uma maca
e pilhas de barro vermelho. Havia poços revestidos de plástico preto, cheios de
água, onde os corpos apodreciam submersos, presos a blocos de cimento. Carros
velhos, enferrujados, guardavam surpresas nos porta-malas, ou atrás do volante.
Um Cadillac branco, por exemplo, era dirigido pelo esqueleto de um homem (...)
(...) Um
crânio sorria para mim, sob uma amoreira, e o furo do tiro, entre as órbitas,
parecia um terceiro olho. Vi um caso perfeito de dentes rosados (provavelmente
causado por hemólise, uma questão ainda controversa nos simpósios de medicina
forense). Havia nozes por toda parte, mas eu não me atreveria a comer uma
delas, pois a morte saturava o solo e os fluidos corporais tingiam as encostas.
A morte estava na água e no vento, subia até as nuvens. Chovia morte na
Lavoura, e os insetos e animais se fartavam dela. Nem sempre terminavam a
refeição iniciada, pois o suprimento era vasto demais.”
(página
273)
Adorei ter tido a oportunidade de ler algo dessa escritora, que é uma das melhores do gênero, e ainda poder usar essa minha escolha para o Desafio Literário 2012 - Tema de Março: Serial Killer. Para ver minha Lista de Títulos Selecionados e resenhas anteriores, CLIQUE AQUI.
6 comentários:
Ah, essa escritora ficou conhecida por contratar vários especialistas para resolver o caso do Jack, o Estripador. Depois que li essa reportagem, fiquei muito curiosa pra ler algo dela. Bacana tua resenha :D
Tenho um convite pra te fazer, caso te interesse.. Vi que, além do desafio literário, tu tem outro projeto de clássicos. Se te interessar, esse meu projeto poderia se encaixar no teu. o nome é 501 grandes escritores
o link é esse :)
http://gatopretodebiblioteca.blogspot.com/p/projeto-501-grandes-autores.html
beijo!
Uau! Adorei a resenha, me lembrou bastante Agatha Christie e O silêncio dos inocentes. Não sei se tem algo a ver, porque quase nunca leio livros policiais. Mas, dependendo do momento, adoro ler, e vou guardar esse nome pra esses momentos ^^
Beijos.
Mi, não conhecia essa escritora. Ao contrário das séries que eu assisto, quase não leio nada com assassinos em série.
Mas é legal poder conhecer e quem sabe ler um pouco mais sobre isso.Eu ao contrário, peguei um livro super casca grossa,de difícil leitura e agora acho que vou partir pro Dexter, já assisto a série... será que o livro será bom?
Gostei da sua resenha, e entendo quando vc fala que quase sempre descobre o final! rs
bjs!
Sabe que já ouvi falar muito nesta escritora, mas ainda não tive oportunidade de ler? Parece que faz bem o meu tipo!
Ainda não li nada dela, apesar de ver seus livros espalhados por vários lugares.
Eu tinha um sentimento (que agora se confirmou com tua resenha): o estilo dela é MUITO parecido com o de Kathy Reichs. Não sei quem é mais velha hahaha, mas acho que não importa, vou ler alguma coisa dela depois que minha fila básica andar.
Abraço!!!
Namoro os livros da autora nas livrarias e nunca os levo para a casa. Foi bom ter lido essa resenha, um empurrão e tanto!
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