segunda-feira, 27 de maio de 2013

Resenha: Guia de uma ciclista em Kashgar


1923. Evangeline chega à antiga cidade asiática de Kashgar com sua irmã Lizzie e a missionária-chefe Millicent em uma ação evangelizadora. Enquanto Millicent tenta conseguir novos fiéis e Lizzie registra tudo com sua câmera fotográfica, Evangeline faz anotações que pretende transformar em um guia para ciclistas.
Dias atuais, Londres. Frieda abre a porta de seu apartamento e dá de cara com um homem desenhando pássaros na parede do corredor. No dia seguinte, ele se foi. Pouco tempo depois, Frieda recebe notificação para esvaziar o apartamento de uma parente falecida que ela nem sabia que existia.
Como essas histórias se entrelaçam? Só lendo o livro para saber...

“Vejo coisas. Vejo quartos com meninas adormecidas junto às suas máquinas de costura e um galpão imundo que chama de hospital, com duas camas de metal e lençóis sujos. Ruas bem diferentes daquelas de estilo chinês; são cheias de muçulmanos, carretas puxadas por burros, carne de carneiro e pão, um universo muito distante de Pequim. Vejo comerciantes, homens do mercado, e ouço várias línguas: altaico, uzbeque, cazaque, quirguiz, turcomano, chinês, russo e árabe.”

O trecho acima dá uma ideia do que esperar do livro: uma grande mistura de povos, ideias e religiões. Kashgar é uma cidade chinesa localizada na antiga Rota da Seda e faz fronteira com a Rússia e com a capital do Paquistão. É uma zona política importante em que há muitos conflitos.

Não quero falar muito da história (mesmo porque seria impossível). A intenção aqui é apenas passar minhas impressões de leitura. O que posso dizer é que o trio de missionárias se envolve em um sério incidente diplomático logo no início da viagem, o que coloca em risco não apenas a missão, mas também a vida das mulheres e de quem as ajudasse.

Já na parte da história que se passa nos dias atuais, Frieda se esforça para descobrir quem era a dona do apartamento herdado enquanto tenta dar um rumo à sua vida e procura uma forma de ajudar Tayeb, o imigrante ilegal que desenha pássaros. Como se isso não fosse trabalhoso o suficiente, um dos itens herdados por Frieda é uma coruja!

O que me atraiu nesse livro foi justamente a mistura étnica e religiosa, a possibilidade de conhecer um pouco mais lugares exóticos e muito distantes dos quais não sei praticamente nada. A ideia de ver esses lugares pela perspectiva de uma personagem que explora o mundo montada em uma bicicleta me pareceu interessante.

E é por isso que me decepcionei um pouco com a parte do livro sobre a missão evangelizadora. A narrativa acaba sendo mais focada nas questões políticas/diplomáticas e nas divergências entre as 3 mulheres. A exploração dos lugares acaba ficando em segundo plano, já que na maior parte do tempo elas estão confinadas em algum lugar enquanto aguardam o julgamento e/ou ajuda da missão para poderem sair da região.

Já a parte da história que se passa na Inglaterra se mostrou bem mais empolgante, com muitos mistérios envolvendo o passado da protagonista e os propósitos de Tayeb, além de situações divertidas criadas pela interação com a coruja.

O que pude perceber foi que o sentimento comum aos personagens de ambas as histórias é o de solidão e de não-pertencimento ao lugar onde estão. Mesmo na Londres contemporânea, as pessoas continuam isoladas e relutantes em aceitar tudo o que é diferente e querem expulsar os "invasores" que têm hábitos, línguas e ideais distintos. Na época das missionárias, a coisa era ainda pior, pois, além de estarem em uma terra estranha, na qual a comunicação era complicada, elas tinham que enfrentar preconceitos por serem mulheres viajando sozinhas - um verdadeiro insulto aos costumes locais.

“Guia de uma ciclista em Kashgar” é um livro difícil de classificar e um pouco diferente do que eu esperava, mas ainda assim foi prazeroso acompanhar a história de personagens tão distintos. É um livro que dita o ritmo de leitura, que para mim foi bem lento. As pistas que ligam uma história à outra são espalhadas ao longo da trama e durante a leitura fui elaborando várias teorias enquanto tentava montar o quebra-cabeça. No entanto, só nas 50 páginas finais é que ficou clara para mim a relação entre os personagens.

Preciso falar que achei lindíssima a capa com a ciclista atravessando cidades sobre uma pena de pavão e que gostei muito dos mapas do "Inferno" e do "Paraíso" colocados nas capas internas. Os mapas são apenas citados na história, mas foi bacana terem colocado no livro para consulta.

(Clique para ampliar)

Imagino que seria uma boa história a ser adaptada para o cinema.


Este livro foi lido como parte da parceira com a Intrínseca.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ao começar a ler sua resenha, o que me pareceu mais intrigante foi a própria cidade, da qual nunca tinha ouvido falar. E mesmo você dizendo que essa parte é pouco explorada, me pareceu um livro bem curioso.

Michelle disse...

Mesmo a cidade sendo menos explorada do que eu gostaria, continua sendo interessante. É um livro bom para variar o estilo de leitura ;)