sexta-feira, 27 de junho de 2014

Resenha: Lady Susan


Lady Susan é uma viúva recente que busca um bom casamento para si e também para a filha adolescente. – Jane Austen. Casamentos. Clássico. Foi o que pensei ao ler a sinopse. Só que, ao contrário do que eu esperava, a história é bem dinâmica e cheia de fofocas e intrigas. E não é que finalmente achei um livro da Jane Austen para chamar de meu?

Eu não gosto de histórias melosas nem de mocinhas indecisas. Simplesmente não tenho paciência para essas coisas. O único livro da Jane Austen que tinha lido até então era “Orgulho e Preconceito” e, embora eu reconheça os méritos da autora por questionar a sociedade e suas classes sociais e por apresentar uma protagonista do sexo feminino que queira se fazer ouvir em uma época em que as mulheres não podiam nem mesmo escolher o próprio marido, confesso que queria torcer o pescoço da Elizabeth por se torturar com dúvidas bobas. Eu sou muito pragmática e não vi grandes dilemas na história: ou ela escolhia o Darcy com todos os seus possíveis defeitos ou deixava pra lá. Simples assim.

Mas enfim... eu queria dar outra chance à autora. E a oportunidade surgiu este mês, já que Jane Austen é a escritora escolhida para representar a Inglaterra no projeto Volta ao Mundo em 12 Livros. Escolhi "Lady Susan" porque era o mais curto. Não é algo bonito de se dizer, mas é a verdade. E, com certeza, foi uma escolha acertada!

A tal Susan perdeu o marido há apenas 6 meses e foi acolhida na casa amigos até se restabelecer. O que ela faz para agradecer a hospedagem? Dá em cima do dono da casa e seduz o rico pretendente da filha dele a fim de casá-lo com sua própria filha. Um amor de criatura, não? Diante da situação horrorosa que causou na casa de seu anfitrião, Susan é 'convidada a se retirar' e vai buscar abrigo na residência do cunhado, onde, mais uma vez, usa todo seu charme e boas maneiras para encantar a todos e criar mais confusão.

O livro é um romance epistolar. Tudo o que sabemos é o que lemos nas cartas trocadas entre Susan e seu cunhado (irmão do falecido marido), entre Susan e Alicia (sua única amiga – aquela que bota lenha na fogueira e que parece ser tão inescrupulosa quanto a protagonista), entre Catherine (esposa do cunhado) e sua mãe, entre Susan e Reginald (a vítima mais recente da golpista).

Susan é descrita como uma mulher ainda bela (apesar dos seus 30 e poucos anos), amável, sedutora, que fala bem e que parece ser a melhor amiga logo que alguém a conhece, mas que aos poucos mostra sua verdadeira face: uma interesseira de marca maior, egoísta, mãe relapsa e cruel. Já a descrição de sua filha, Frederica, ao longo da história passa de uma jovem abestalhada, teimosa e rebelde para uma garota ingênua, assustada, inteligente e bonita (ainda que não tanto quanto sua mãe).

Embora a trama gire em torno de casamento, "Lady Susan" é oposto do que eu esperava de um livro da Austen. A protagonista é uma víbora ardilosa, mas age de forma tão sutil que engana a todos. É um ser humano desprezível, que não tem pudores ao flertar com homem casado, que passa por cima da felicidade da própria filha para satisfazer seu ego, que não se acanha ao brincar com o sentimento alheio. No entanto, como personagem, é sensacional! Daquelas vilãs que amamos odiar!

Com uma protagonista muito mais interessante do que aquelas que eu já conhecia, a autora continua criticando as aparências e os costumes da sociedade inglesa, apresenta uma anti-heroína que estava bem à frente do seu tempo, que queria, sim, um casamento vantajoso para manter seu conforto, mas que também não se sentia acomodada em um enlace de fachada e que queria ser desejada pelos homens não só por ser prendada.

“Não é que seja uma defensora da atual tendência de adquirir um conhecimento perfeito de todas as línguas, artes e ciências. É perda de tempo. Dominar o francês, o italiano, o alemão, a música, o canto, o desenho, etc, farão que uma mulher consiga alguns aplausos, mas não lhe permitirão acrescentar um amante mais à lista”.

Foi uma ótima leitura, que indico para quem quer conhecer melhor a escrita da Austen, mas não gosta de mimimi.

Este post faz parte do projeto Volta ao Mundo em 12 Livros - Mês de Junho: Jane Austen (Inglaterra). Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do #VAM12L, clique AQUI.

5 comentários:

Maura C. disse...

Oi, Mi.
Que livro legal!!!
Fiquei até com vontade de ler esse romance da Jane Austen.
Dela li apenas "Orgulho e Preconceito", gostei, mas até agora não fiquei com vontade de ler outro romance.
Se algum dia ler esse, espero gostar também ;)

Beijos!!!

Lígia disse...

Sou dessas que não gosta de mimimi e torce um pouco o nariz para a Austen. Não conhecia esse livro, parece bem divertido e ainda tem a vantagem de ser curtinho!

Anônimo disse...

Parece que temos uma opinião parecida sobre Austen.

Li apenas "Persuasão" e, embora tenha apreciado a crítica aos casamentos arranjados, à hipocrisia da classe dominante, aos amores perdidos e etc, achei sua personagem muito boba e indecisa. Cara, como eu senti vontade de mandar essa garota acordar para a vida!! Até torci contra o casal principal. Mas, enfim, ainda tenho curiosidade de ler seus outros romances.

Coincidentemente, assisti há duas semanas "O Clube de Leitura de Jane Austen" que reforçou essa curiosidade.

Não conhecia esse livro que você citou. Gostei da informação nova! :)

Bjs ;)

mm amarelo disse...

Michelle, ultimamente ando conhecendo Jane Austen pelas resenhas e comentários apaixonados que leio. Ainda não tinha ouvido falar de "Lady Susan" e adorei seu texto!
Confesso que quando pegar o primeiro livro, será aquele do "mimimi", Ahahaha!, mas sonho em ser daquelas que dirá: "Já li tudo dela", rs.

beijo grande,
(depois de séculos, eu voltei \o/)

Maira

Eduarda Sampaio disse...

Gostei muito da resenha, Michelle! ^_^
Depois que li seu comentário lá no blog passei aqui para ver se você tinha escrito resenha e cá estou.
Pena que você não escreveu resenha sobre Orgulho e Preconceito. Adoraria ler. Amo Jane Austen, mas gosto de ouvir a opinião de pessoas que não gostam dela.
Beijo!