Uma
mulher decide morrer, mas não tem coragem de pôr fim à própria vida. A solução?
Contratar um matador, fazer o pagamento adiantado e dar a ele um prazo de
quatro meses para que realize o trabalho em um lugar distante e que parece não
combinar com a missão: a ensolarada Barcelona.
Com
uma premissa dessas, nem pensei duas vezes antes de aceitar o convite da Editora Gutenberg para ler o livro. O
que encontrei foi menos uma história policial e mais uma trama que mostra
pessoas comuns, lidando de formas diferentes com as dificuldades e frustrações
do dia a dia.
Para
começar, o único personagem com nome é o matador
(Soares). Sua cliente é conhecida
apenas como Mulher e, no desenrolar
da trama, seu caminho cruza o do Homem,
o que acaba fazendo com que, por tabela, entrem na jogada também a Morena e a Loira, ambas esposas do Homem.
O
Homem é o típico filhinho da mamãe, daquele tipo tratado feito criança mesmo
depois de barbado. Como consequência, é incapaz de tomar decisões e deixa a
cargo do acaso ou de outras pessoas os rumos de sua vida. O fato de ter duas
esposas é o mais óbvio deles. A intromissão da Mulher coloca em risco o frágil
equilíbrio de seu mundo.
As
esposas são intencionalmente contrastantes: enquanto a Loira é de uma beleza
comum, desprovida de dotes culinários e amarga, a Morena é daquelas que fazem
cabeças girar na rua, um prodígio na arte do forno e fogão e sonhadora. Embora encarem
a frustração de modo distinto, ambas estão claramente insatisfeitas com o
casamento, mas, assim como o Homem, se recusam a tomar uma atitude para mudar a
situação. E todos se arrastam pela vida afora...
O
mais irônico, para mim, é que o rumo da história foi definido por uma
suposição do matador, que criou um passado de decepções amorosas para sua
cliente e, a partir daí, desenvolveu toda uma teoria sobre o que estava
acontecendo. A explicação, no fundo, era bem mais simples do que ele supunha.
Apesar
de não ter encontrado a história policial que eu havia imaginado, a leitura foi
agradável e rápida, graças aos capítulos curtos e à escrita dinâmica da autora.
Na verdade, a sensação que eu tive ao virar a última página foi de que havia
terminado de ler um conto - provavelmente o conhecimento superficial que temos
dos personagens e o tempo da narrativa, breve, me deram essa impressão de
recorte de suas vidas. O que não quer dizer que seja ruim (eu gosto muito de
contos), só que não rolou um apego aos personagens, aquela identificação que
nos faz rir, chorar, sofrer e torcer por eles, sabe?
“Quatro
meses. O tempo de gestação de um suíno. De uma hiena. De uma cabra e uma ovelha
prematuras. O tempo que Soares tinha para matar a Mulher, não fosse a
interpretação dos fatos o guia falho da humanidade. Pois não ouvimos o que o
outro diz, mas o que queremos. O que sabemos do outro é a interseção do que
compreendemos em nós mesmos”.
Em
todo caso, foi uma leitura gostosa, boa para se fazer jogado no sofá, apenas
relaxando.
Este livro foi lido como cortesia da Editora Gutenberg/Grupo Autêntica. Muito obrigada!
Assistam ao book trailer:
4 comentários:
Já vi tantas pessoas falarem bem e mal desse livro que eu preciso ler para saber exatamente o que eu vou achar, mas pelo que eu ouvi esse é o livro de estreia da autora (?) ter bons reviews já é um grande passo e o mote do livro tb parece muito interessante.
bjos
Fui ler o livro achando que seria mais dramático, por conta do tema do suicídio, e achando que também haveria uma investigação policial.
Mas eu ria lendo o livro, achei-o divertido. Embora, como você, não tenha conseguido me envolver com nenhum personagem.
Beijo!
Não é um livro que desperte muito a minha curiosidade, mas é, no mínimo, curiosa a proposta de uma mulher não ter coragem de se matar e contratar um matador de aluguel pra si mesma.
Mel,
Sim, é o primeiro livro da autora. Não foi como eu tinha imaginado, mas gostei da experiência. Só lendo para saber, né?
Aline,
Eu também esperava outra coisa, mas foi bem diferente. É legal ser surpreendida às vezes, não?
Unknown,
Sim, a ideia é bem inusitada :)
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