"Ao
verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa
lembrança estas memórias póstumas".
Com
esse epitáfio começa a narrativa de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, um
clássico de Machado de Assis publicado em 1881. A história é contada
pelo próprio Brás Cubas, o defunto-autor, que nos apresenta detalhes do seu
funeral e depois retoma a ordem cronológica dos fatos, começando por sua
infância, passando por fatos marcantes da adolescência e encerrando com
episódios da vida adulta.
Assim,
ficamos sabendo que Brás Cubas foi um “menino diabo” quando criança, do tipo
que maltratava outras crianças, principalmente os empregados e escravos,
mentindo descaradamente e acusando os outros. Com o tempo, passou a admirar a
injustiça humana, a classificá-la, atenuá-la e entendê-la. Já na adolescência,
conhece seu primeiro amor, Marcela, a quem passa a adorar e encher de presentes
caros. Preocupado com os gastos excessivos do filho e com o intuito de separar
o casal, o pai manda Brás Cubas para a Universidade de Coimbra. Lá, foi um
estudante preguiçoso, um aluno medíocre e festeiro, e essa atitude ele manteve
por toda a vida adulta. Como ele mesmo diz, na página 68:
“Não
tinha outra filosofia. Nem eu. Não digo que a Universidade me não tivesse
ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto.
Tratei-a como tratei o latim: embolsei três versos de Virgílio, dois de
Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da
conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de
todas as coisas a frascologia, a casca, a ornamentação...”
Retorna
ao Brasil devido à doença da mãe, que acaba falecendo. Brás Cubas, então,
desenvolve hipocondria e fica isolado em uma casa, de onde só sai quando o pai
lhe apresenta uma proposta dupla: um casamento + cargo de senador. Sem nenhum
propósito na vida, Brás Cubas enxerga aí a possibilidade de fazer algo de
produtivo, mas, como se vê adiante, os planos não se concretizam. Já velho e
sem ter alcançado nenhum grande feito na vida, Brás Cubas dedica-se então à
criação de um emplasto anti-hipocondríaco para “aliviar nossa melancólica
humanidade”, tentando, assim, gravar seu nome na história. Como ele nos conta
logo no início da história, acaba morrendo enquanto desenvolvia o remédio, sem
ter conseguido atingir seu objetivo.
Há
anos queria ler esse livro, mas, sabe-se lá porque, nunca tinha feito isso. Nem
lembro se essa obra fazia parte da lista de leitura obrigatória de quando
prestei vestibular, só sei que o livro estava aqui em casa há mais de 10 anos e
nunca havia sido aberto. Gostei muito da história em si e da forma como é
escrita. Machado de Assis é simplesmente gênio. Não só pela narrativa
interessante, mas também por sua apresentação. Os capítulos são curtos e os
fatos narrados não seguem uma sequência direta e lógica. A trama cheia de
digressões nos coloca dentro da cabeça de Brás Cubas, com uma narração baseada
no esquema da oralidade, ou seja, é como quando estamos contando uma história a
alguém e, de repente, lembramos de algo que deixamos de mencionar e, então,
voltamos, fazemos parênteses, avançamos novamente, contamos detalhes
desnecessários, interagimos, perguntamos e, às vezes, respondemos a nossas
próprias questões.
Por
isso eu digo: vale muito a pena conhecer esse clássico da literatura nacional!
O livro foi adaptado para o cinema em 2001. Alguém já viu o filme? Recomenda?
Este
post faz parte do Desafio 7 Clássicos em 2012. Para ver minha lista de leitura,
clique AQUI. Para conhecer as regras, ler resenhas de outros participantes e participar do Desafio, clique no
respectivo banner à direita.
3 comentários:
Amo Machado e este para mim é um clássico da literatura que deve ser lido, na idade devida, claro. O autor foi um revolucionário ao criar esta obra em uma época que se vivia, dormia e alimentáva-se de romances. Amei ver este post em seu blog Mi! *O*
Um beijão,
Pronome Interrogativo.
http://www.pronomeinterrogativo.com
Também não me lembro se esta obra estava na lista do vestibular, mas se estava, eu não li, Lembro que no ensino médio cada grupo tinha que fazer resenhas de livros do Machado de Assis, mas fiquei com uma coletânea de contos dele. Lembro que mesmo os contos já tinham me despertado a atenção, tanto que li de novo, anos mais tarde. Gosto da escrita do autor, ele consegue fazer com que nós estejamos contando a história, exatamente como vc descreveu. Muito boa a sua resenha, me fez ter vontade de ler de novo alguma obra clássica.
Beijos.
Oi Mi!
Nunca li nada clássico, sério. É meio vergonhoso, eu sei, mas não sinto nem um pouco de atração por obras antigas. Agora confesso, sua resenha me deixou com vontade de ler esse livro. Acho, que se eu resolver ler algo, será ele.
Tem promoção de Páscoa lá no blog, dê uma conferida! :D
Beijos, Kamila
http://vicio-de-leitura.blogspot.com.br/
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