Em
“O Complexo de Di” acompanhamos Muo, um quarentão, virgem, míope e
cavalheiresco que retorna à China após passar 10 anos estudando psicanálise na
França. Conhecido como o “primeiro psicanalista chinês”, ele terá de usar todo
o conhecimento adquirido com a ajuda de seu psicanalista e mentor, Michel
Nivat, bem como aplicar as técnicas de seus ídolos Freud e Lacan para conseguir
cumprir sua difícil missão: conseguir libertar da prisão de Chengdu sua paixão
da juventude, a Vulcão da Velha Lua, uma fotógrafa solteira, atualmente com
36 anos, que foi presa por vender à imprensa europeia fotos de torturas
praticadas por policiais chineses. Para tanto, ele tem que pagar o preço
imposto pelo caprichoso Juiz Di: conseguir para o magistrado uma garota virgem.
Conheci
este livro por acaso em um site de trocas. A capa chamou minha atenção e achei
a sinopse peculiar. Como tenho grande atração por histórias orientais,
solicitei o livro. A narrativa do autor é muito envolvente. Ele consegue
descrever de um jeito único a rotina desse povo e seus costumes milenares, bem
como a confusão criada quando a tradição encara a modernidade, já que a
história se passa em 2001. O humor e a ironia permeiam todo o livro. O autor
consegue criar uma grande expectativa por meio de uma linda imagem, só para ter o prazer de esmigalhá-la ainda na mesma frase:
“A
água escorria em pequeninos riachos do seu corpo esbelto, sobre cuja pele
escorregadia se notavam algumas adoráveis marcas de varíola, já meio apagadas.
Depois você se sentou e agitou as pernas de uma beleza deslumbrante na água
esverdeada, quase marrom.”
(página
61)
Outra
coisa bacana no livro é que a narrativa intercala a ação atual, apresentada em
terceira pessoa, com os pensamentos de Muo enquanto se dá a ação, narrados em
primeira pessoa.
Assim
como seu personagem Muo, o autor, Dai Sijie, também escolheu a França para
viver e, ao voltar seus olhos para a pátria-mãe, não consegue deixar de notar
as incongruências e de criticar o governo e o povo chinês em geral.
“Após
redigir essas notas, no quarto de um pequeno hotel, ele faz um inventário de
várias páginas no qual enumera, artigo por artigo, com a menção do preço em
francos e em moeda chinesa, o conteúdo da mala perdida, sem se esquecer de seus
sapatos, seus cadernos, sua garrafa térmica de viagem etc., na intenção de
dirigir uma reclamação à direção da estrada de ferro. Mas logo começa a
gargalhar.
‘Parece
que você não conhece mais sua grande pátria.’
Rasga
a folha, joga os pedaços pela janela de seu quarto e se contenta em rir.”
(página
31)
“O
Complexo de Di” foi o vencedor do badalado prêmio literário francês Femina, em
2003. Dai Sijie vive na França desde 1984, é escritor e também
cineasta. Seu primeiro romance, “Balzac e a costureirinha chinesa”, foi
traduzido em 35 países e levado às telas com direção do próprio autor (um ótimo
filme, aliás).
Para
saber mais sobre o povo chinês e acompanhar a busca de Muo por uma mulher com
"melão vermelho ainda não fendido", leia “O Complexo de Di”. Ultrarrecomendado!
Este post faz parte do Desafio Literário 2012 - Tema de Abril: Escritores Orientais. Para ver minha lista de livros selecionados e outras resenhas já postadas, CLIQUE AQUI.
6 comentários:
Mi, QUE INTERESSANTE.
Já vi (e amei) Balzac e a Costureirinha Chinesa, mas não sabia que o diretor era também autor do romance, muito menos que tinha outros livros.
Muito bacana MESMO!
Amei a resenha.
Beijos.
http://blogdaeditora.wordpress.com
Eu não conhecia o livro (que tem uma sinopse bem diferente mesmo!), mas já tinha ouvido falar de “Balzac e a costureirinha chinesa”, embora eu nunca tenha lido.
Eu tenho vontade de conhecer a literatura oriental, mas ainda não tive a oportunidade de concluir o livro que tenho aqui (que vou tentar ler nas férias).
Bjs ;)
Parece muito bom, vai pra lista! =) Bj!
Oi, Michelle!
Só pela capa, já gostei. E pela sua resenha, vai para a lista. Mas talvez o outro livro do autor venha antes na "pequena" ordem dos livros ainda a serem descobertos...
bj
Eu também não sabia que o autor era o mesmo de "Balzac..." nem que ele também tinha dirigido o filme de mesmo nome. Só quando o livro chegou aqui em casa é que fiz essa descoberta. Foi um dos livros mais legais que li este ano. Muito bom mesmo.
Os trechos selecionados contém tanta beleza que vale a pena apreciar. Somente apreciar. ;)
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