Gregor
Samsa é um caixeiro-viajante que mora com os pais e a irmã mais nova. Um dia,
ao acordar de sonhos agitados, se vê transformado em um inseto gigante. Crente
de que ainda estava tendo um pesadelo, decide dormir mais um pouco para ver se
tudo voltava ao normal. Infelizmente não conseguiu cair no sono novamente, pois
costumava dormir de lado e seu estado atual não permitia deitar-se em tal
posição. Ele tenta sair da cama e responder às insistentes perguntas da família
e também do gerente da empresa, que havia ido buscá-lo. Horrorizado, percebe
que ninguém entendia seu sibilar e que sua aparência causava repulsa. Enxotado,
ele segue trancado em seu quarto enquanto a verdadeira metamorfose tem início:
a mudança de seu interior e de seus familiares.
“A
Metamorfose” é o livro mais famoso de Kafka e já ganhou adaptações
cinematográficas e teatrais, bem como versões em quadrinho e mangá. Além disso,
serve de inspiração para obras de arte, é citado em obras literárias e estudado
na psicologia e sociologia. Mesmo sem ter lido o livro é impossível nunca ter
tido contato com suas ideias. Enfim, não pretendo fazer aqui uma análise
profunda da obra, apenas comentar o que achei interessante.
Como
eu disse lá na sinopse, a maior mudança ocorre no interior dos personagens.
Gregor detestava trabalhar como caixeiro-viajante, pois as viagens constantes
eram cansativas, as refeições eram ruins e o contato com as pessoas era
superficial. No entanto, ele suportava todos esses incômodos sem reclamar, já
que poder oferecer uma vida confortável à sua família lhe deixava feliz. Quando
ele se transforma em inseto, continua preocupado com o futuro da família,
afinal, quem assumiria as finanças da casa?
Então
a transformação da família começa: a mãe, que era velha e asmática, passa a
trabalhar como costureira para uma loja de modas; o pai, que era idoso, lento e
andava de muletas, vai trabalhar como mensageiro em um banco; e a irmã de 17
anos, cuja única preocupação era tocar violino, começa a trabalhar como
vendedora durante o dia e a estudar francês e estenotipia à noite, para tentar
um emprego melhor futuramente.
A
família, que no início demonstrava sua gratidão a Gregor quando, após a empresa
do pai ir à falência, ele assumiu sozinho as contas da casa, aos poucos se
acostumou aos esforços do rapaz, como se o que ele fazia não fosse mais que
obrigação. Esse sentimento é agravado quando Gregor se transforma em inseto e
não pode mais trabalhar, ou seja, tornou-se inútil e uma vergonha para todos. O
cansaço dos novos trabalhadores também aumenta a irritação deles com Gregor e
eles passam a tratá-lo cada vez pior.
Gregor no começo fica triste com o tratamento recebido, mas se culpa por colocar a
família nessa situação. Porém, conforme aumenta o descaso dos pais
e da irmã com suas necessidades e sentimentos, a transformação interna de
Gregor por fim acontece:
“Mas
depois ele já não estava mais com ânimo algum para cuidar da família, sentia-se
simplesmente cheio de ódio pelo mau tratamento e, embora não pudesse imaginar
nada que lhe despertasse o apetite, fazia no entanto planos sobre como poderia
chegar à despensa para ali pegar tudo o que lhe era devido, mesmo que não
tivesse fome.”
(página
63)
Gostei
muito do livro. Eu já havia lido a versão em quadrinhos, adaptada por Peter
Kuper, mas conhecer o original é sempre bom. Não que o trabalho de Kuper não
seja bom; pelo contrário, ele consegue captar perfeitamente em imagens o que o
texto de Kafka nos faz imaginar.
Para
quem gosta de ler o livro e ver o filme (que é o meu caso), indico a adaptação cinematográfica
do diretor russo Valeri Fokin (Prevrashcheniye/ Metamorphosis). Só não vá esperando
grandes efeitos especiais, já que essa é uma versão bem teatral que utiliza
poucos truques de cena e nenhuma maquiagem para transformar o protagonista em
inseto. Quase sem diálogo, o filme foca mais na expressão corporal dos atores e
na música para contar a história. Vale como curiosidade.
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3 comentários:
Oi, Michelle! Menina, esse é um dos livros mais incríveis que já li. Dá pra fazer tantas interpretações, tirar tanta coisa dele que dá a impressão de ser inesgotável. =)
Eu gosto muito do Kafka. Ele tem aquela coisa de "não podemos mudar nada a não ser nós mesmos". Outra obra dele que eu gostei muito foi " O Processo", como sempre o protagonista se vê em uma situação que não consegue mudar.
O que eu acho ainda mais divertido nos livros do autor é que, vc se transformou em um inseto gigante e o que você quer fazer é sair e ir trabalhar! hahahahahaha. Os protagonistas não parecem dar conta da situação que se encontram...
Mas com certeza é um dos meus autores preferidos...
Lua,
É mesmo... infinitas interpretações. É fácil viajar nas possibilidades, né?
Karla,
Eu também achei isso o máximo! O cara vira um inseto e finge que tudo bem, é só terminar de me arrumar e já vou para o trabalho!
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