O Livro - Do Amor e Outros Demônios (Gabriel García Márquez)
A história se passa em uma pequena cidade da América do Sul de colonização
espanhola, onde a Igreja Católica impunha suas crenças aos índios nativos e aos
negros e considerava tudo o que não estava de acordo com seus princípios
bruxaria ou adoração ao demônio. É lá que vivia Sierva María, filha única de 12
anos de Dom Ygnacio de Alfaro y Dueñas, o Marquês de Casalduero, e de Bernarda
Cabrera. Resultado de um casamento de interesses, nascida de 7 meses e
desenganada pela parteira, a garota que já teve um início de vida complicado
foi rejeitada pela mãe, ignorada pelo pai e criada junto aos escravos. Um dia,
andando pela feira com uma das escravas de sua casa, Sierva María é mordida por
um cão raivoso e é então que tem início sua trágica sina.
Ao
ser informado pela escrava, dias depois, sobre o incidente da feira e encontrar
Sierva María delirando em decorrência da mordida, seu pai chama para examinar a
filha o médico da cidade, Abrenuncio de Sá Pereira Cão. Sem um diagnóstico
preciso, o médico aconselha o marquês a observar as reações da menina e fazer
com que seus últimos dias na Terra sejam felizes, pois se a raiva fosse
confirmada, não restaria outra coisa a fazer senão mandá-la para um lugar
isolado onde os enfermos agonizavam até morrer. Desesperado com o prognóstico
sombrio, o pai começa a utilizar todo tipo de unguento, benzedura e feitiço
para tentar curar a filha, o que acaba piorando os delírios. Sem saber mais a
quem recorrer e embora estivesse afastado da igreja há anos, ele procura o
bispo em busca de uma solução. O caso da menina era algo incompreendido e,
portanto, só poderia ser obra do capeta. O bispo então é claro e irredutível em
sua decisão: internar Sierva María no Convento de Santa Clara para iniciar o
exorcismo.
O
livro descreve muito bem o panorama de país colonizado, as incongruências dos
novos ricos (chamados de “nobres de goteira”), a mistura de crenças africanas
com os princípios católicos, a perseguição do Santo Ofício aos pensadores e a
todos que discordavam das ideias religiosas vindas da Espanha. García Márquez é
mordaz em sua crítica à igreja católica, que condena previamente tudo o que não
consegue explicar, atribuindo uma força extraordinária ao mal. Isso fica bem
claro nos diálogos que se desenrolam no convento, entre a abadessa Josefa
Miranda, encarregada de Sierva María, e Cayetano Delaura, o padre novato
enviado para realizar o exorcismo. Tudo o que acontecia de diferente no
convento (desde os galos que cantavam mais que o costume até um eclipse) era
imediatamente atribuído à menina e ao demônio que supostamente vivia dentro
dela. O fato de Sierva María falar diferentes línguas africanas e usar colares
de contas também aumentava a aura de endemoninhada da garota. Para a abadessa,
não havia o que discutir: a menina estava possuída; para o padre, tudo era
questão de dar poder demais ao diabo. E ao duvidar da possessão e ter contato
com Sierva María, o padre Cayetano enfrenta algo muito mais difícil de lidar do
que demônios: o amor.
“Às
vezes atribuímos ao demônio certas coisas que não entendemos, sem cuidar que
podem ser coisas que não entendemos de Deus”.
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O Filme - Do Amor e Outros Demônios (Del Amor y Otros Demonios, 2010)
O
filme começa com Sierva María navegando em um barquinho junto com Domingas
(chamada apenas de “Do”), a escrava que a criou. Na cena seguinte, a escrava
está morta e testemunhamos Sierva María despedindo-se de sua "mãe"
negra. Logo estamos na feira, onde ocorre o ataque do cão raivoso e, na
sequência, vemos a menina delirante. O que se segue é a visita do médico e a
internação da garota no convento para o exorcismo.
Com
um visual muito bonito e delicado, o filme peca por acelerar demais os fatos,
embora o ritmo da história seja arrastado. Não sei se fui clara na frase
anterior. O que estou tentando dizer é que senti falta de muita coisa que foi deixada
de fora no filme e que, se não tivesse lido o livro, ficaria meio perdida. Como
nas cenas iniciais, por exemplo. Assistimos à morte da escrava e sabemos que a
menina tinha uma forte ligação com ela, mas não sabemos por que. A importância
dos negros e de sua cultura e crença para Sierva María fica em segundo plano. O
foco é totalmente voltado para o amor proibido entre a menina e o padre. E por
se estender demais nesse amor é que eu disse que o filme acaba sendo arrastado.
Por
outro lado, há soluções muito bacanas encontradas pela diretora, como o zumbido
constante ao fundo nas cenas de Sierva María (para indicar os poderes
sobrenaturais atribuídos a ela), os sonhos da menina com a pequena vela que cai
na água e não se apaga e a presença constante da menina no pensamento do padre
Cayetano.
Acho
que a adaptação ficou muito aquém do livro, mas vale como curiosidade.
9 comentários:
Não sei se tenho coragem de conferir o filme, já tive experiências não muito boas com outras obras de García Marquez.
Quero muito ler esse livro, como aliás, quero muito ler vários livros do Gabriel XD
Adorei teu blog , estou seguindo já
Beijão querida
Bruna Reis
http://desbravandohistorias.com.br/
Olá, Michelle!
Gostei da sua resenha sobre o livro e o filme. Apesar de não ter costume de ler muitos livros desse gênero, fiquei interessada pelo livro "Do Amor e Outros Demônios".
Beijos!
Biih
http://hellostar.org
De Gabriel Garcia Marques só li Cem anos de Solidão e fiquei deslumbrada. Tenho muita vontade de ler mais obras do autor.
Os filmes baseados em livros sempre me decepcionam, então faço asim : antes de assistir ao filme leio a obra.
Aproveito muito mais.
Nunca li nada do autor, mas o enredo chama atenção, diferente da capa.
Bela resenha.
SObre o filme, acho que a maioria dos problemas com adaptações, é o fato de muitas vezes o filme cortar partes importantes para o entendimento de certos fatos ou correr demais com a história. Nesse caso eu vou dar preferência a ler o livro antes para não me decepcionar.
bjos
Eu geralmente leio o livro primeiro e vejo o filme mais por curiosidade mesmo.
A Jacqueline tocou em um ponto importante: a capa. Reparem que o livro tem uma capa péssima, mas é sensacional; já o filme tem um cartaz lindo, mas deixa a desejar.
Adoro o que esse homem escreve. Assisti "Memória de minhas putas tristes" e não me lembro se a crítica foi positiva, mas eu gostei do filme. Mas esse ainda vou esperar um pouco, ainda quero ler o livro antes :)
Gostei :) li o livro e aqui esta uma boa sintese para somar do que se trata
Li o livro e garanto que quem lê vai adora
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