O Cabo Lituma e o Guarda Civil Tomás Carreño dividem o posto policial de um vilarejo
nos Andes e se veem diante do intrigante desaparecimento de três pessoas. O que
estaria por trás dos sumiços? Uma conspiração dos moradores locais? Obra do
grupo terrorista que espalhava o medo havia tempos na região? Ou, quem sabe, esse
seria um lembrete da insatisfação de criaturas místicas que habitam as
montanhas desde sempre?
Em
um local completamente isolado pela exuberante natureza e pelo clima severo dos
Andes, foi iniciada a construção de uma estrada. Chegaram máquinas e operários
e a obra começou. No entanto, greves e intempéries atrasavam o andamento do
projeto constantemente. O que para uns se tratava de uma disputa entre a
construtora e os trabalhadores, para Adriana, mulher do cantineiro
Dionísio, era um sinal claro de castigo das entidades mágicas e dos diabos que
moram nas selvas andinas.
Devido
ao seu dom de ler o destino das pessoas nas cartas e linhas das mãos e de fazer
previsões certeiras, Adriana era conhecida no local como “A Bruxa”. Sem dúvida,
o comportamento sexualmente liberado de seu marido e os estranhos rituais de
bebedeira e dança que promoviam em seu bar contribuíam ainda mais para aumentar
a aura de misticismo em torno do casal.
“Lituma nos Andes” é um livro de ficção
que insere alguns elementos históricos em sua trama (por exemplo: o grupo Senderista que teve forte atuação no
Peru nos anos 70-80, invadindo vilas, realizando matanças indiscriminadas,
sequestrando turistas e políticos), bem como crenças e lendas típicas dos Andes (o muki – o duende mineiro que vive dentro das montanhas; o pishtaco – ser barbudo e albino que se
alimenta de gordura humana). Além disso, também retrata as diferenças na fala e
nos hábitos entre os costeiros (mais urbanos e supostamente mais civilizados) e
os serranos (pessoal mais simples e, em grande parte, descendente dos
indígenas), criando a clássica rixa regional.
Llosa
vai entrelaçando aos poucos a história dos personagens à investigação policial
que é a espinha dorsal da trama. Se, durante o dia, Lituma e Tomás se
empenhavam em encontrar pistas, interrogar pessoas e desenvolver hipóteses que
ajudassem a desvendar o mistério, à noite eles se recolhiam ao pequeno barraco
que fazia as vezes de posto policial e dormitório e se entregavam a horas de
conversas, com Tomasito entretendo o superior com as loucuras que fez e os
perigos que enfrentou para ficar com a mulher amada, uma prostituta que ele
roubara do chefão do narcotráfico local (aliás, ele tem muito do Ricardito, de "Travessuras da Menina Má").
Escolhi
este livro depois que a Renata comentou que pretendia lê-lo para o mês de
agosto do Desafio Literário Skoob, que tem como tema “Livros com bruxas”. Eu, que nem sabia que havia uma bruxa nesta
história, fiquei curiosa e aproveitei para ler minha terceira obra do Llosa.
Mais uma vez, fui envolvida por sua narrativa peculiar que mistura fatos
ocorridos em tempos e lugares diferentes sem usar marcações gráficas, o que
pode parecer meio estranho no começo, mas que conseguimos assimilar rapidamente
depois de algumas páginas. Foi uma leitura muito boa, que me permitiu conhecer um
pouquinho mais da história do Peru em uma trama policial que prendeu minha
atenção até o fim e ainda incluiu uma boa dose de romance e misticismo.
“A
bruxa era a senhora Adriana, mulher de Dionísio. Quarentona, cinquentona, sem
idade, à noite ela ficava na cantina, ajudando o marido a dar bebida às pessoas
e, se era verdade o que contava, vinha do outro lado do rio Mantaro, das
vizinhanças de Parcasbamba, uma região montanhosa e selvática. De manhã
preparava comida para alguns peões e, à tarde e à noite, adivinhava a sorte com
baralhos, mapas astrais, lendo as mãos ou jogando folhas de coca para o ar e
interpretando as figuras que elas formavam ao cair. Era uma mulher de olhos
grandes, saltados e ardentes, e quadris amplos que ela balançava ao caminhar.
Tinha sido uma verdadeira fêmea, ao que parece, e se contavam muitas histórias
sobre o seu passado. Que foi mulher de um mineiro narigudo, e até que matara um
pishtaco. Lituma desconfiava que,
além de cozinheira e adivinha, de noite também era outra coisa.”
P.S. Este é o terceiro livro do escritor peruano com o personagem Lituma, que apareceu pela primeira vez em “A Casa Verde” e depois em “Quem matou Palomino Molero?”. Além disso, fez participações no conto "Um Visitante" (do livro "Os Chefes") e no romance "Tia Julia e o Escrevinhador". Um verdadeiro astro! - Só para constar, é possível ler os livros em qualquer ordem.
Livro
que apresenta uma boa mescla de gêneros literários com uma versão mais
contemporânea das bruxas. Recomendo.
Um comentário:
Mi, fiquei morrendo de vontade de ler, mas acho que vou esperar mais um pouquinho porque tem outros do autor que quero ler primeiro já que eu nunca li nada dele.
Adorei a resenha!
Beijos enormes!
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