sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

As Cidades Invisíveis (Ítalo Calvino)

“As Cidades Invisíveis” é uma das obras mais conhecidas de Calvino. São várias histórias narradas pelo famoso viajante Marco Polo ao imperador dos tártaros Kublai Khan. As cidades são divididas por temas: “as cidades e a memória”, “as cidades e o céu”, “as cidades e o desejo” etc e têm sempre nome de mulher. Isso é apenas um indício da sedução exercida pelas cidades, tornando impossível saber o que é real e o que é imaginário:

“Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos desejos a sua fortuna, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo”.
(As cidades e os desejos - páginas 17-18)


Imagem de Nora Sturges
É apenas por meio da narração de Marco Polo que Kublai Khan conhece as cidades que fazem parte de seu reino. Marco Polo são os olhos do imperador desbravando novas terras. Mas, será mesmo que ele conheceu todos esses lugares? E se conheceu, será que eles seriam de fato como descritos?


A discussão sobre a existência e o aspecto das cidades é constante entre os dois personagens do livro.
Uma dessas passagens:

Imagem de Nora Sturges
“Kublai Khan percebera que as cidades de Marco Polo eram todas parecidas, como se a passagem de uma para a outra não envolvesse uma viagem, mas uma mera troca de elementos. Agora, para cada cidade que Marco lhe descrevia, a mente do Grande Khan partia por conta própria, e, desmontando a cidade pedaço por pedaço, ela a reconstruía de outra maneira, substituindo ingredientes, deslocando-os, invertendo-os.
Marco, entretanto, continuava a referir a sua viagem, mas o imperador deixara de escutá-lo, interrompendo-o:
- De agora em diante, vou descrever as cidades e você verificará se elas realmente existem e se são como eu as imaginei...”
(Parte 3 – página 45).


 Além disso, a poesia e o lirismo estão impregnados em trechos como este:

Valdrada, de Luthero Proscholdt
“Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, às vezes anula. Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho. As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondente invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem se amar”.
(As cidades e os olhos - página 56)

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Andria, de Luthero Proscholdt

Inspirados por Calvino, muitos artistas expressaram suas visões das cidades míticas no papel/tela. Alguns exemplos são Nora Sturges e Luthero Proscholdt, cujos trabalhos ilustram este post.

Uma coisa é certa: é impossível não deixar a imaginação rolar solta ao ler as descrições das cidades. Eu mesma me apaixonei por umas quatro ou cinco!

Créditos:
Imagens da Nora Sturges
Imagens de Luthero Proscholdt

Um comentário:

Aymée Meira disse...

há uns 2 anos atrás li esse livro pra uma diciplina na faculdade... confesso que gostei muito *-*
beijos
boa sexta

aym - http://thislovebug.net/macchiato