sexta-feira, 22 de junho de 2012

E o tema é . . . Documentários


Tenho uma amiga que é louca por documentários. Eu partilho dessa maluquice, e volta e meia a gente se enfia em festivais ou sessões especiais para assistir algum filme desconhecido sobre algum tema obscuro. OK, nem sempre os filmes são tão desconhecidos e às vezes os temas não são tão obscuros assim, mas o fato é que nada é insignificante o bastante para que a gente desista. Pode ser sobre música, política, moda, religião, criação de um objeto qualquer, não importa. Somos loucas pelas histórias por trás das pessoas e dos fatos. E é por isso que hoje faço um post com os 5 documentários mais recentes que vi.

O Equilibrista (Man on Wire, 2008)
Baseado no livro “To Reach the Clouds”, escrito pelo Equilibrista Philippe Petit, o documentário conta a história de quando ele atravessou de uma torre à outra do World Trade Center em Nova York sobre um cabo de aço, em 1974. Com imagens belíssimas e uma trilha sonora que complementa perfeitamente a fotografia, o filme prende a atenção do início ao fim. Foi muito bacana acompanhar todos os preparativos e treinos, desde que Petit viu no jornal a foto das torres gêmeas ainda em construção até a realização da façanha. Misturando cenas de época e atuação de atores, o documentário é uma obra de arte e ganhou vários prêmios, inclusive o BAFTA de Melhor Filme Britânico, o Prêmio do Júri e da Audiência de Melhor Documentário do Festival de Sundance e o Oscar de Melhor Documentário, todos do ano de 2009. Sensacional!

Lixo Extraordinário (Waste Land, 2011)
Documentário filmado no Aterro Sanitário do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. É lá que o artista plástico mundialmente reconhecido Vik Muniz desenvolve um trabalho social por meio da arte. Acompanhamos a história de alguns personagens do lixão, que acabaram transformados em objeto do projeto de Muniz, e como sua participação nesse processo afetou suas vidas. As obras criadas são maravilhosas, mas o mais importante do filme são as cenas impactantes dos catadores escalando pilhas de lixo e quase sendo soterrados pelos caminhões enquanto lutam pelos objetos que têm mais valor no mercado da reciclagem. Impossível não se emocionar com os dramas pessoais apresentados na tela, como o da senhora que prepara as refeições para os catadores ali no meio do aterro, do líder comunitário que luta contra a descrença, do rapaz que monta uma biblioteca com os livros encontrados no lixo e cita Maquiavel e Nietzsche, e muitas outras histórias. O filme ganhou o Prêmio do Público de Documentário Internacional do Festival de Sundance 2010, prêmios no Festival de Berlim 2010 e concorreu ao Oscar 2011 na categoria de Melhor Documentário. É daqueles filmes que ficam na cabeça dias depois que termina a exibição.

Manda Bala (Send a Bullet, 2007)
Documentário americano que obviamente não foi divulgado no Brasil e que esfrega na nossa cara (e expõe ao mundo todo) as vergonhas de se viver em um país corrupto e com índices de violência surreais. O filme mostra o esquema de lavagem de dinheiro desviado de projetos da Funarte por meio da construção de ranários, do poder de políticos que desviam essas verbas, ameaçam juízes, compram votos, dominam os meios de comunicação, enfim... coisas que vemos diariamente no jornal, mas que infelizmente são consideradas “normais”. Os efeitos disso podem ser vistos na imensa desigualdade social que gera hordas de criminosos impunes, população amedrontada, a parcela mais rica se defendendo como pode, o florescimento da indústria de segurança privada (guardas, blindagem de carro, maior frota de helicópteros particulares do mundo, implantação de chip para rastreamento em caso de sequestro etc) e até a especialização de cirurgiões plásticos na reconstrução de orelhas devido à grande demanda causada por mutilações em cativeiro. Impressionante e humilhante.

José e Pilar (José e Pilar, 2010)
Narrado por Saramago na forma de diário, a rotina do escritor português e de sua esposa, a jornalista espanhola Pilar Del Río, nos é apresentada. Durante o período que vai desde a criação e início da produção do romance “A Viagem do Elefante”, em 2006, até seu lançamento em São Paulo, em 2008, acompanhamos o casal em discussões profissionais sobre participações em eventos, compromissos, cartas a serem respondidas, entre outras coisas, bem como seus momentos mais reservados, como um aniversário, a renovação das bodas, a noite em frente à TV. É encantador ver o quanto Saramago amava a esposa e o quanto ela se dedicava a ele. Os comentários sarcásticos do mestre são um deleite à parte, como quando ele está elaborando uma resposta para o Dalai Lama e diz que “se ele não se importar com o fato de eu não crer em Deus, nem em reencarnação e ainda por cima ser comunista...”, ou quando reclama com o ator Gael García Bernal nos intervalos do ensaio de uma leitura dramatizada que ambos fariam sobre mesmice das perguntas dos jornalistas, para, na sequência, responder com bom-humor a essas mesmas perguntas. Singelo e emocionante.

Antifa – Caçadores de Skins (Antifa – Chasseurs de Skins, 2008)
A primeira coisa que geralmente vem à mente das pessoas ao ouvir o termo “skinhead” são rapazes carecas agressivos ligados ao neonazismo. O fato é que nem sempre foi assim. No início os skinheads frequentavem clubes de ska e reggae e o movimento não estava envolvido com política ou racismo. Em certo período, passam a frequentar locais em que tocava música punk, e é daí também que vem a confusão frequentemente difundida pela mídia. Mais tarde, o movimento skinhead se aproxima de partidos de extrema-direita e alguns grupos abraçam ideais nazistas, dando origem aos skins fascistas e neonazistas. O documentário mostra como diversas gangues, principalmente de punks, se uniram com gangues de outros movimentos, como hip-hop e panteras negras, para expulsar os skins das ruas francesas. Violento, sem dúvida, mas interessante para se observar o comportamento dos jovens parisienses pobres, seus estilos musicais, suas crenças políticas e as diversas mudanças desses movimentos ao longo dos anos. Bacana. Só gostaria de conhecer a versão dos skinheads para as histórias contadas, já que o filme mostra apenas a visão dos punks.

E é isso.
E vocês, gostam de documentários?
Beijo e bom fim de semana!

11 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Michelle! Eu adoro documentários também, mas confesso que acabo não vendo muitos. Assisti aos 2 primeiros que você comentou, adorei Man on Wire, é muito lindo. Estou pra ver José e Pilar há séculos, mas como meu marido quer ver também, ainda não chegou a vez na fila dos filmes compartilhados. Fiquei de olho nesse Manda Bala, parece ser intenso. Beijinho e bom final de semana!

Dana Martins disse...

Eu normalmente não vejo muitos documentários. É aquela mistura de não ter vontade o bastante com a falta de oportunidade. Mas é engraçado que esse semestre os documentários caíram de paraquedas na minha vida. Até agora só deu pra assistir dos mais antigos e primeiros movimentos, mas... haha
Eu gostei muito do post e com certeza o que eu mais gostei foi o último. Tem a ver com o livro que eu estou lendo e quando chegar nessa parte com certeza eu vou assistir

Anônimo disse...

Esse do Saramago deve ser bem legal de ver. Realmente profundo.

E esse Antifa de ser muito 10 também.
Chegou ver em DVD ou em fetivais mesmo?

Michelle disse...

Lua,
Esses filmes/seriados compartilhados exigem paciência...
Dana,
Que livro é esse que você tá lendo? Fiquei curiosa.
Prascucuias,
Alguns na TV a cabo, outros baixados.

Para quem se interessou e curte documentários, indico esse site aqui:
http://docsprimus.blogspot.com.br/
Tem muita coisa bacana, inclusive esse do Antifa, se não me engano.

Layn disse...

Desses documentários que você citou eu só conheço O lixo extraordiário e eu acho muito³ bom. A forma como os trabalhadores do lixão foram mostrados foi maravilhosa e em momento algum me pareceu que eles eram pessoas indignas de alguma forma (como outros documentários acabam mostrando).

Outro documentário que eu gosto bastante é SICKO, do Michael Moore (o cara de Tiros em Columbine). Eu ainda sonho com a utopia da saúde e educação dignas, então conhecer o sistema de saúde de outros países e descobrir suas eficiências é maravilhoso. >3 Claro que o foco do documentário não é beeem esse, mas ne, dá pra conhecer tambem.

taiyounorakuen.blogspot.com

Nice disse...

Michelle,

valeu pelas dicas...vou procurar os outros, pois só assisti Lixo extraordinário. Você assistiu o episódio final de The Killing?????

Tati disse...

Coincidentemente assisti ontem O Lixo Extraordinário e achei fabuloso!! Tb já vi O Equilibrista e gostei bastante. Adoro documentários, quando bem feitos, emocionam tanto quanto um filme!! E acho que nesse aspecto o Brasil dá um show, produzimos ótimos documentários. Você já viu Estamira, do Marcos Prado? Recomendo demais!!
Conheci seu blog através do da Lua, Ficções do Interlúdio e estou gostando demais do estilo. Se quiser dar uma passadinha no meu: www.nopaisdasentrelinhas.blogspot.com. Estou te seguindo para voltar aqui sempre ;)
Beijos
Tati

Michelle disse...

Layn,
Adoro o Michael Moore, mas ainda não vi Sicko. Está na lista.

Nice,
Ainda não. Quando terminar, te aviso para a gente conversar sobre a série.

Tati,
Obrigada pela visita e pelas palavras. Não vi Estamira, mas foi gravado no mesmo aterro sanitário de Lixo Extraordinário, não?

Unknown disse...

Interessantes a sinopse desses docs, apesar de eu não ter visto nenhum desses.
Dos que eu vi recentemente e sugiro são: Na captura dos Friedmans, Trabalho Interno, Nascidos em Bordéis e todo e qualquer filme de Eduardo Coutinho: Cabra Marcado, Edificio Master, Babilonia 2000, etc..
um abraço
Az

Dana Martins disse...

*mil anos depois* Antes tarde do que nunca... HUAHA

Vou dar uma olhada nesse blog com certeza.

E o livro que eu to lendo que fala disso é "A Criação da Juventude", ele vai falando de vários movimentos "jovens", é bem legal.

Michelle disse...

Hahaha... é verdade. Nunca tinha ouvido falar do livro. Dica anotada. E tks pela resposta ;)