Tenho
uma amiga que é louca por documentários. Eu partilho dessa
maluquice, e volta e meia a gente se enfia em festivais ou sessões especiais
para assistir algum filme desconhecido sobre algum tema obscuro. OK, nem sempre
os filmes são tão desconhecidos e às vezes os temas não são tão obscuros assim,
mas o fato é que nada é insignificante o bastante para que a gente desista.
Pode ser sobre música, política, moda, religião, criação de um objeto qualquer,
não importa. Somos loucas pelas histórias por trás das pessoas e dos fatos. E é
por isso que hoje faço um post com os 5 documentários mais recentes que vi.
O Equilibrista (Man on Wire, 2008)
Baseado
no livro “To Reach the Clouds”, escrito pelo Equilibrista Philippe Petit, o
documentário conta a história de quando ele atravessou de uma
torre à outra do World Trade Center em Nova York sobre um cabo de aço, em 1974. Com
imagens belíssimas e uma trilha sonora que complementa perfeitamente a fotografia, o
filme prende a atenção do início ao fim. Foi muito bacana acompanhar todos os
preparativos e treinos, desde que Petit viu no jornal a foto das torres gêmeas
ainda em construção até a realização da façanha. Misturando cenas de época e
atuação de atores, o documentário é uma obra de arte e ganhou vários prêmios,
inclusive o BAFTA de Melhor Filme Britânico, o Prêmio do Júri e da Audiência de
Melhor Documentário do Festival de Sundance e o Oscar de Melhor Documentário,
todos do ano de 2009. Sensacional!
Lixo
Extraordinário (Waste Land, 2011)
Documentário
filmado no Aterro Sanitário do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. É
lá que o artista plástico mundialmente reconhecido Vik Muniz desenvolve um
trabalho social por meio da arte. Acompanhamos a história de alguns personagens
do lixão, que acabaram transformados em objeto do projeto de Muniz, e como sua
participação nesse processo afetou suas vidas. As obras criadas são
maravilhosas, mas o mais importante do filme são as cenas impactantes dos
catadores escalando pilhas de lixo e quase sendo soterrados pelos caminhões enquanto
lutam pelos objetos que têm mais valor no mercado da reciclagem. Impossível não
se emocionar com os dramas pessoais apresentados na tela, como o da senhora que
prepara as refeições para os catadores ali no meio do aterro, do líder
comunitário que luta contra a descrença, do rapaz que monta uma biblioteca com
os livros encontrados no lixo e cita Maquiavel e Nietzsche, e muitas outras
histórias. O filme ganhou o Prêmio do Público de Documentário Internacional do
Festival de Sundance 2010, prêmios no Festival de Berlim 2010 e concorreu ao
Oscar 2011 na categoria de Melhor Documentário. É daqueles filmes que ficam na
cabeça dias depois que termina a exibição.
Manda Bala (Send a Bullet, 2007)
Documentário
americano que obviamente não foi divulgado no Brasil e que esfrega na nossa
cara (e expõe ao mundo todo) as vergonhas de se viver em um país corrupto e com
índices de violência surreais. O filme mostra o esquema de lavagem de dinheiro
desviado de projetos da Funarte por meio da construção de ranários, do poder de
políticos que desviam essas verbas, ameaçam juízes, compram votos, dominam os
meios de comunicação, enfim... coisas que vemos diariamente no jornal, mas que
infelizmente são consideradas “normais”. Os efeitos disso podem ser vistos na
imensa desigualdade social que gera hordas de criminosos impunes, população
amedrontada, a parcela mais rica se defendendo como pode, o florescimento da
indústria de segurança privada (guardas, blindagem de carro, maior frota de
helicópteros particulares do mundo, implantação de chip para rastreamento em caso de
sequestro etc) e até a especialização de cirurgiões plásticos na reconstrução
de orelhas devido à grande demanda causada por mutilações em cativeiro.
Impressionante e humilhante.
José
e Pilar (José e Pilar, 2010)
Narrado
por Saramago na forma de diário, a rotina do escritor português e de sua
esposa, a jornalista espanhola Pilar Del Río, nos é apresentada. Durante o
período que vai desde a criação e início da produção do romance “A Viagem do
Elefante”, em 2006, até seu lançamento em São Paulo, em 2008, acompanhamos o
casal em discussões profissionais sobre participações em eventos, compromissos,
cartas a serem respondidas, entre outras coisas, bem como seus momentos mais
reservados, como um aniversário, a renovação das bodas, a noite em frente à TV.
É encantador ver o quanto Saramago amava a esposa e o quanto ela se dedicava a
ele. Os comentários sarcásticos do mestre são um deleite à parte, como quando
ele está elaborando uma resposta para o Dalai Lama e diz que “se ele não se
importar com o fato de eu não crer em Deus, nem em reencarnação e ainda por
cima ser comunista...”, ou quando reclama com o ator Gael García Bernal nos
intervalos do ensaio de uma leitura dramatizada que ambos fariam sobre mesmice
das perguntas dos jornalistas, para, na sequência, responder com bom-humor a
essas mesmas perguntas. Singelo e emocionante.
Antifa – Caçadores de Skins (Antifa –
Chasseurs de Skins, 2008)
A
primeira coisa que geralmente vem à mente das pessoas ao ouvir o termo
“skinhead” são rapazes carecas agressivos ligados ao neonazismo. O fato é que
nem sempre foi assim. No início os skinheads frequentavem clubes de ska e
reggae e o movimento não estava envolvido com política ou racismo. Em certo
período, passam a frequentar locais em que tocava música punk, e é daí também
que vem a confusão frequentemente difundida pela mídia. Mais tarde, o movimento
skinhead se aproxima de partidos de extrema-direita e alguns grupos abraçam
ideais nazistas, dando origem aos skins fascistas e neonazistas. O documentário
mostra como diversas gangues, principalmente de punks, se uniram com gangues de
outros movimentos, como hip-hop e panteras negras, para expulsar os skins das
ruas francesas. Violento, sem dúvida, mas interessante para se observar o comportamento
dos jovens parisienses pobres, seus estilos musicais, suas crenças políticas e
as diversas mudanças desses movimentos ao longo dos anos. Bacana. Só gostaria de conhecer a versão dos
skinheads para as histórias contadas, já que o filme mostra apenas a visão dos
punks.
E é isso.
E vocês, gostam de documentários?
Beijo e bom fim de semana!
10 comentários:
Oi, Michelle! Eu adoro documentários também, mas confesso que acabo não vendo muitos. Assisti aos 2 primeiros que você comentou, adorei Man on Wire, é muito lindo. Estou pra ver José e Pilar há séculos, mas como meu marido quer ver também, ainda não chegou a vez na fila dos filmes compartilhados. Fiquei de olho nesse Manda Bala, parece ser intenso. Beijinho e bom final de semana!
Eu normalmente não vejo muitos documentários. É aquela mistura de não ter vontade o bastante com a falta de oportunidade. Mas é engraçado que esse semestre os documentários caíram de paraquedas na minha vida. Até agora só deu pra assistir dos mais antigos e primeiros movimentos, mas... haha
Eu gostei muito do post e com certeza o que eu mais gostei foi o último. Tem a ver com o livro que eu estou lendo e quando chegar nessa parte com certeza eu vou assistir
Esse do Saramago deve ser bem legal de ver. Realmente profundo.
E esse Antifa de ser muito 10 também.
Chegou ver em DVD ou em fetivais mesmo?
Lua,
Esses filmes/seriados compartilhados exigem paciência...
Dana,
Que livro é esse que você tá lendo? Fiquei curiosa.
Prascucuias,
Alguns na TV a cabo, outros baixados.
Para quem se interessou e curte documentários, indico esse site aqui:
http://docsprimus.blogspot.com.br/
Tem muita coisa bacana, inclusive esse do Antifa, se não me engano.
Desses documentários que você citou eu só conheço O lixo extraordiário e eu acho muito³ bom. A forma como os trabalhadores do lixão foram mostrados foi maravilhosa e em momento algum me pareceu que eles eram pessoas indignas de alguma forma (como outros documentários acabam mostrando).
Outro documentário que eu gosto bastante é SICKO, do Michael Moore (o cara de Tiros em Columbine). Eu ainda sonho com a utopia da saúde e educação dignas, então conhecer o sistema de saúde de outros países e descobrir suas eficiências é maravilhoso. >3 Claro que o foco do documentário não é beeem esse, mas ne, dá pra conhecer tambem.
taiyounorakuen.blogspot.com
Michelle,
valeu pelas dicas...vou procurar os outros, pois só assisti Lixo extraordinário. Você assistiu o episódio final de The Killing?????
Coincidentemente assisti ontem O Lixo Extraordinário e achei fabuloso!! Tb já vi O Equilibrista e gostei bastante. Adoro documentários, quando bem feitos, emocionam tanto quanto um filme!! E acho que nesse aspecto o Brasil dá um show, produzimos ótimos documentários. Você já viu Estamira, do Marcos Prado? Recomendo demais!!
Conheci seu blog através do da Lua, Ficções do Interlúdio e estou gostando demais do estilo. Se quiser dar uma passadinha no meu: www.nopaisdasentrelinhas.blogspot.com. Estou te seguindo para voltar aqui sempre ;)
Beijos
Tati
Layn,
Adoro o Michael Moore, mas ainda não vi Sicko. Está na lista.
Nice,
Ainda não. Quando terminar, te aviso para a gente conversar sobre a série.
Tati,
Obrigada pela visita e pelas palavras. Não vi Estamira, mas foi gravado no mesmo aterro sanitário de Lixo Extraordinário, não?
*mil anos depois* Antes tarde do que nunca... HUAHA
Vou dar uma olhada nesse blog com certeza.
E o livro que eu to lendo que fala disso é "A Criação da Juventude", ele vai falando de vários movimentos "jovens", é bem legal.
Hahaha... é verdade. Nunca tinha ouvido falar do livro. Dica anotada. E tks pela resposta ;)
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