segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Resenha: Carrie, a Estranha


Carrie é uma garota de 16 anos criada em um ambiente opressor pela mãe, uma fanática religiosa. Por ser diferente, Carrie é alvo das mais diversas piadas na escola. Embora sempre tenha suportado todas as humilhações com resignação, Carrie guarda muito ódio dentro de si, e um incidente escolar acende o pavio da bomba de vingança que está prestes a explodir.

Começo esta resenha dizendo que é muito difícil escrever algo sem soltar spoilers. Mais complicado que isso é saber o que ainda pode ser considerado spoiler nessa história, cuja terceira adaptação para o cinema está para estrear. O que eu posso dizer é que o livro é sensacional. Embora eu já conhecesse a história em detalhes, graças ao filme do Brian dePalma, não dá para deixar de admirar a escrita de King. O texto, aliás, é praticamente um roteiro pronto para ser filmado. Enquanto eu lia, todas as cenas do filme voltavam à minha cabeça. Todas. É comum me lembrar de uma ou outra cena importante de livros adaptados, mas com Carrie eu revivi o filme durante a leitura. Isso indica o poder dessa história e a habilidade com que foi filmada.

Mas vamos à trama... Ao contrário das outras adolescentes, Carrie não se interessa por moda (ou finge não se interessar), não vive atrás de garotos, não se importa com a popularidade. Sua triste rotina se resume a ir para a escola e passar horas rezando e se penitenciando por pecados que não cometeu. Sua mãe é uma mulher dominadora e cruel. Para ela, a filha é a prova viva de seu próprio pecado, a reencarnação do mal, que ela tentou eliminar sem sucesso.

Sofrendo calada e obedientemente, Carrie faz tudo para não irritar “Mamãe”. Até o dia em que fica menstruada pela primeira vez na escola. Ingênua, se desespera e acha que vai morrer ao ver o sangue escorrer por entre suas pernas no chuveiro do vestiário feminino, onde as outras garotas a ridicularizam sem dó. O evento tem consequências punitivas para as alunas envolvidas na zombaria, mas é marcante também porque mostra a Carrie que sua mãe mentia para ela sobre coisas importantes. E com o desabrochar de sua feminilidade vem também o fortalecimento de seu poder de telecinese, algo que ela possuía desde criança, mas que estava adormecido desde os 3 anos de idade.

Daí em diante, Carrie percebe sua força e começa a desafiar a mãe, cometendo a ousadia de se deixar convidar para o baile de formatura. Bom, acho que todo mundo sabe o que acontece então. Se não sabe, vá agora ler o livro ou assistir ao filme! Não sei quanto a vocês, mas eu adoro histórias de vingança! Nada melhor que testemunhar o revide de um sofredor, de preferência com muita tortura e sangue (sim, meu lado sádico vibra nesses momentos). E sangue é o que não falta em “Carrie”, certo?

Aliás, acho incrível como o sangue é praticamente o personagem principal da história. Ele dá a vida, ele gera a transformação, ele leva à vingança que, por sua vez, gera mais sangue. É um ciclo perfeito. Falando um pouco mais sobre a escrita, King foi muito bem-sucedido ao mostrar o pensamento dos personagens enquanto eles faziam ou falavam outra coisa. O uso de parênteses e frases jorradas, sem pontuação, mostra bem o fluxo de pensamentos.

Outro recurso que torna a leitura mais dinâmica é a mistura entre presente e futuro, embora tudo tenha acontecido no passado. Confuso? Vou explicar melhor. Enquanto a história está acontecendo, são apresentados trechos de publicações e notícias (matérias de revistas, artigos científicos, depoimentos do caso, partes do livro publicado por uma das sobreviventes, transcrições de chamadas de telejornal da época), nos quais jornalistas, pesquisadores, moradores da cidadezinha e policiais tentam entender o poder paranormal de Carrie e o que aconteceu naquela fatídica noite do baile. Ou seja, a história se passa no presente, os recortes são de um tempo posterior à ação, e, durante a leitura, tudo isso já é passado. Coisa de mestre.

A edição que eu li traz, como curiosidade, um prefácio do próprio King, escrito em 1999, no qual ele fala um pouco sobre as origens da história. Segundo ele, a inspiração veio de um artigo sobre telecinese publicado na revista "Life", lido muitos anos antes, mas que impressionou o autor. À impressão que ele teve do fenômeno, juntou histórias de duas garotas consideradas “estranhas” que ele conheceu na adolescência, que eram excluídas e menosprezadas por outros alunos, e que morreram tragicamente antes dos 30 anos de idade. Assim, “Carrie” parece ser a forma que King encontrou para falar sobre um assunto intrigante e, ao mesmo tempo, expurgar os fantasmas de sua adolescência. E fez isso de forma excelente.

“Tommy disse que seria bom – que eles dois iriam tratar de fazer com que fosse. Bem, ela iria. Era melhor ninguém se meter a fazer nada. Era mesmo. Ela não sabia se seu dom vinha do senhor da luz ou das trevas, e agora, descobrindo afinal que, para ela, tanto fazia, sentiu um alívio quase indescritível, como se tivesse se livrado de um peso enorme, que carregava há muito tempo nos ombros.

Simplesmente fantástico! Recomendo também o filme do Brian dePalma (1976). E que venha a adaptação de 2013!

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Este post faz parte do Desafio Literário 2013 - Mês de Agosto: Vingança. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DL2013, clique AQUI. 

10 comentários:

Michelle Borges disse...

Michelle,

Não conheço a história de Carrie, acredita? Já ouvi falar do filme e do livro, mas nunca soube ao certo do que tratava. Agora que li a sua sinopse fiquei com vontade de ler! Ainda bem que a minha irmã tem o livro! Vou pegar emprestado :)


Ótima resenha!

Beijos

0 disse...

Oi, Mi!
Até hoje só li dos livros do Stephen King: O Pistoleiro e Carrie, a Estranha. E, mesmo não sendo o suficiente para me considerar fã do autor, gostei bastante de ambas as histórias. Já tem uns 2~3 anos que li Carrie e, lembro que na época, li em uma sentada naquela coleção de bolso que lançaram dos livros dele.
Achei bem interessante essa questão do sangue, realmente é um ciclo. Ainda não tinha atinado pra essa ligação, acredita?

Sobre o filme, tô com os dois pés atrás com essa adaptação de 2013. Não curti de jeito nenhum a Carrie, pra mim é como se faltasse nessa nova atriz a sede de vingança que a antiga passava. Entretanto, a Julianne Moore vai dar um show como sempre. No mais, ótima resenha! Bjos =)

Claudia Leonardi disse...

Fiquei muito curiosa com sua resenha, mas como ja te disse, sou medrosa demais para ler este...
Beijao, querida!

Michelle Henriques disse...

Mi, que resenha sensacional!
Eu amo esse livro, quando era bem novinha e depois reli qdo tinha uns 17 anos. Acho que está na hora de mais uma leitura.
Beijos!

Tamara Costa disse...

Li três livros do King, dois eu amo e Carrie é um deles :) a penas é que é difícil achar pra comprar...na época eu li em ebook.

Anônimo disse...

Acredita que nunca li Stephen King! Pois é, assisto aos filmes, acho legal, mas não leio os livros e não sei a razão, rs. O filme ‘Carrie, a Estranha’ de 1976 é excelente! E pelo que entendi, é bastante fiel ao livro. Bem, sobre a nova adaptação, vamos ver. Mas acho que vai ficar bacana.
Abraços!

Lígia disse...

Eu queria ler Carrie neste mês, mas não tinha o livro nas bibliotecas que eu frequento...
Sua resenha está ótima como sempre :)

Melissa Padilha disse...

Que legal Michelle essa resenha!
Poxa dessa história só vi o filme, que é ótimo também mas, o livro sempre é melhor né, ainda mais se tratando de Stephen King!
Fiquei muito tentada a ler esse livro!!! Mas, preciso comprar pq não tenho em casa :(
Adorei sua resenha!
bjos
Melissa

Michelle disse...

Michelle Borges,
Pega o livro com ela então! Vale muito a pena!

Taci,
Eu estou esperançosa com relação ao novo filme. Acho a Chloe Moretz talentosa e com carinha de boneca, o que pode ser bem assustador em se tratando de Carrie.

Clau,
Pena que você não gosta do estilo. Mas se um dia quiser se arriscar em histórias de terror, pode ler esse sem pestanejar.

Michelle Henriques,
Eu tenho esse livro há anos e sei lá porque não li antes!

T. Costa,
O meu é de uma coleção que vendeu na banca de jornal. Atualmente, acho que os da coleção de bolso são mais fáceis de achar (e com um preço mais convidativo).

Lulu,
Te entendo. Também faço essas coisas...rs. O filme de 76 é bem fiel sim. Ansiosa para ver a nova versão!

Lígia,
Que chato que não conseguiu o empréstimo! Mas leia em uma próxima oportunidade porque é muito bom!

Melissa,
Esse é um daqueles casos em que livro e filme estão no mesmo patamar. Ambos são incríveis!

Jessinha Cruz disse...

A história é muito assustadora? É que eu tenho medo desse tipo de livro, mas vi ele olhando para mim na prateleira da biblioteca e decidi ler. Além disso é o primeiro que eu leio deste género. Ainda estou nas primeiras páginas (na parte em que lhe vem a menstruação no banheiro).
Adorei o seu blog e já estou seguindo. Pode retribuir se quiser e ficarei muito feliz <3
Beijo, Jessie*
www.fofocas-literarias.blogspot.pt