domingo, 10 de março de 2013

DRD2013/ Charlie's Booklist: Este Lado do Paraíso (F. Scott Fitzgerald)

* Frida foi muito amável e não cobrou cachê neste ensaio.

Esta é a história de Amory Blaine, rapaz bonito, inteligente, extremamente arrogante e narcisista, mimado por ter sido criado apenas pela mãe. Nascido em berço de ouro, Amory julgava as pessoas pela beleza e pelas posses. Tinha verdadeiro horror à pobreza. No entanto, a Primeira Guerra Mundial mudou sua forma de ver as coisas, e, de fútil e idealista, Amory se transforma em uma pessoa desiludida e sem perspectivas, se afundando em amores passageiros e bebidas em busca de um novo sentido para vida.

“Detesto gente pobre”, pensou Amory. “Detesto-as por serem pobres. A pobreza pode ter sido bela, um dia, mas hoje é um horror. É a coisa mais feia que existe neste mundo. Ser corrupto e rico é essencialmente mais higiênico do que ser inocente e pobre”.

“Este Lado do Paraíso” é o primeiro livro de Fitzgerald, publicado em 1920, quando o autor tinha apenas 24 anos. De cunho autobiográfico, Fitzgerald consegue como ninguém retratar as angústias e excessos da “geração perdida”, aquela vontade de mudar o mundo, mas sem saber exatamente como.

Tive muita dificuldade para terminar a leitura e mais ainda para escrever alguma coisa sobre a trama. Não que o livro seja ruim, de modo algum. Mas, assim como quando li “O Grande Gatsby”, no ano passado, me irritei profundamente com a futilidade dos personagens e, principalmente, com as atitudes de Amory. Claro que isso quer dizer que o autor foi bastante hábil em retratar a atmosfera do início do século XX, mas não sei... Acho que não gosto de personagens jovens, bonitos, ricos e que saem fazendo um monte de besteira por aí só para provar sua juventude, beleza e riqueza. Sou mais do tipo que se identifica com os pobres e sofredores, sabe? O Amory provavelmente iria me desprezar, mas fazer o que?

O começo do livro, principalmente, é bem arrastado, com Amory narrando seus “dramas” juvenis, como não conseguir se encaixar perfeitamente em nenhum grupo da universidade e ser esnobado pelas garotas e trocado por pretendentes mais velhos e mais ricos. A história começou a me interessar mesmo lá pela metade do livro, a partir do “Interlúdio”, quando a Primeira Guerra Mundial estoura e Amory vê seus amigos indo embora e ele mesmo se junta ao exército. As mudanças da sociedade e do próprio protagonista tornaram o livro mais humano e realista. É incrível notar as transformações de Amory, de riquinho metido a besta em admirador dos socialistas.

Uma coisa que me agradou muito no livro foi a relação entre Amory e o Monsenhor Darcy, velho amigo da mãe do protagonista que assume um papel paternal e de conselheiro. Com Darcy, Amory abria seu coração e dividia as inquietudes, e ainda conversava sobre literatura. Embora Amory fosse perdendo aos poucos a fé na Igreja, sua amizade com o religioso nunca foi abalada.

Aliás, a literatura é um outro indicativo da evolução de Amory. Se no início ele desconhecia grandes autores e se limitava a ler suplementos dominicais e histórias infantojuvenis, ao longo da trama ele vai conhecendo obras essenciais da literatura mundial e termina lendo autores do calibre de Goethe. Um passo e tanto em seu amadurecimento como leitor e como pessoa.

Em suma, gostei da história, apesar de ter sofrido para vencer a primeira metade do livro. A habilidade de Fitzgerald com as palavras é tanta que, mesmo sabendo que encontrarei mais personagens frívolos e enervantes em outras suas, já me peguei planejando a leitura de “Suave é a Noite” e “Belos e Malditos”. É um fascínio bem estranho que o autor exerce sobre mim...

Para quem estiver participando do Charlie's Booklist, hoje, dia 10/03, vai rolar a discussão sobre o livro, começando lá pelas 18:00-19:00. Outros detalhes podem ser encontrados no respectivo grupo, lá no Facebook.

E para quem fizer parte do Desafio Realmente Desafiante, segue a lista de alguns livros citados em “Este Lado do Paraíso” (no grupo de Desafios Literários do Skoob tem uma lista colaborativa com vários livros citados em outros livros):

- Mulherzinhas (Louisa May Alcott)
- A queda da casa de Usher (Edgar Allan Poe)
- Sir Nigel (Arthur Conan Doyle)
- A companhia branca (Arthur Conan Doyle)
- A profissão da Sra. Warren (Bernard Shaw)
- Marpessa (Stephen Phillips)
- Paciência (Oscar Wilde)
- O retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)
- Anna Karenina (Leon Tolstoi)
- Retrato do artista quando jovem (James Joyce)
- Joan e Peter (H. G. Wells)
- Fausto (Goethe)
- A loucura de Almayer (Joseph Conrad)


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Esta postagem faz parte das leituras do Charlie's Booklist - Fevereiro.



Esta postagem também faz parte do Desafio Realmente Desafiante 2013 - Item 10. Ler um livro que tenha entre 300 e 350 páginas ("Este Lado do Paraíso" tem 346 páginas). Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DRD2013, clique AQUI.



14 comentários:

ConversaCult disse...

Acho que esse livro comigo foi "momento certo", porque eu realmente gostei desde o início. Acho que o estilo dele escrever me chamou atenção, é tão encadeado. E aí que eu não sabia nada e ficava "o que ele quer dizer com isso?" Também achei diferente ele contar a história de forma geral, não a cada momento. Eu não conseguia ler muito de uma vez, mas ficava com a história na cabeça. Aí quando chegou na parte da faculdade foi só melhorando.

Mas tenho certeza de que se eu lesse há uns atrás ia ser um inferno, mesmo eu reconhecendo que é bem feito.

Eu não to pensando em ler esses outros títulos dele não. Pelo menos não por enquanto. Mas gostei muito do que eu vi do autor e decidi ler O Grande Gatsby em inglês pra ver como ele escreve de "verdade"

- dana (sei nem o que conta eu to comentando HAUHA)

Michelle disse...

Dana,
Eu tenho essa relação de amor e ódio com os livros do Fitzgerald. Acho que posso dizer que gosto do autor, mas detesto seus personagens.
Hum... ler em inglês pode ser uma boa. Depois quero saber o que você achou.
bjo

Anônimo disse...

Michelle, eu gostei muito do Gatsby, mesmo com a futilidade dos personagens as situações eram muito envolventes e a escrita dele não tem o que dizer!
Mas o que eu quero comentar mesmo é que a Frida é uma coisa muito fofa! rs
Beijo!!!

Michelle disse...

Lua,
A escrita é inegavelmente boa.
Ah... Frida é minha companheira de leitura ;)
bjo

Tati disse...

Michelle, em primeiro lugar, Frida arrasa! E ainda de graça né kkkkk Adorei!
Engraçado que eu também tenho essa relação ambígua com o Fitzgerald! O único livro dele que eu li e posso dizer adorei, é o Gatsby. O Belos e Malditos e Suave é a noite eu li e fiquei com essa sua sensação, de apego e desprezo pelos personagens. Amei a Glória de Belos e Malditos, apesar de saber que dificilmente me relacionaria com alguém como ela (aliás já conheci pessoas como ela que cortei da minha vida porque achava chatas demais rs), mas o autor consegue dar um brilho especial que a deixam, não sei, excitante, com uma energia que dá vontade de ler mais e mais. Vai ver por essa razão o Fitzgerald é tão reconhecido e adorado né?
Adorei a resenha e fiquei curiosa para conhecer o Amory!
Beijos
Tati

Michelle disse...

Tati,
A Frida estava decidida a entrar na foto de qualquer jeito ou não ia deixar eu fotografar o livro...rs
Pois é. Muito estranha essa relação com o Fitzgerald. Inexplicável.
Boa sorte com o Amory. Provavelmente você vai querer bater nele no começo, mas depois passa a admirar sua evolução.
bjo

Anônimo disse...

Oi, Michelle :) Eu não conhecia a proposta desse livro do Fitzgerald; mas tive uma experiência incrível com "O Grande Gatsby". E tenho sim muita vontade de ler outras obras do autor.
Tenho aqui "Suave é a Noite", mas venho adiando há anos, porque está esquecido sob pilhas de livros. Quem sabe não tiro um dia pra ler?

Essa hipocrisia e mediocridade de seus personagens é algo que mais me impressiona em suas histórias. Tem sempre uma relação com os dias de hoje; já que algumas coisas não mudam nunca.

P.S.: A Frida é muito fofinha!! *___*

Bjs ;)

Michelle disse...

Ana,
Verdade! Certas coisas não mudam nunca (infelizmente). Acho que vale a pena resgatar o livro da pilha de leitura, viu?
bjo

Angélica Roz disse...

Oi Michelle!
Ainda não li nada do autor acredita?
Mas estou com O Grande Gatsby aqui na fila...
Adorei a resenha, mas gostei ainda mais da gatinha!! :p

Beijos!

Michelle disse...

Angélica,
Quando puder, leia sim. Pode não ser tão fácil no começo, mas compensa no final.
Ah... e Fridolina está fazendo o maior sucesso!

Sarah disse...

Ownnnnn!! Vou ser sincera: nem li o post, só vim comentar a carinha da Frida! Que foooofa! E a patinha denunciando o amassa-amassa na colcha/lençol (?)...
Depois volto pra comentar direito sobre o livro rs!

Michelle disse...

Hahaha... vou botar foto dos gatuchos em todos os posts para gerar comentários! Eu coloco os livros na cama para fotografar porque a luz lá é melhor. Sempre estendo uma toalha para a estampa da colcha não interferir no fundo da imagem. Mas sabe como são os gatos, né? É estender a toalha e eles correm para deitar em cima. Geralmente, empurro eles para o canto e fotografo, mas nesse dia não teve jeito. Ela decidiu que queria aparecer e pronto!
bjo

Flávia disse...

Poxa, nem posso opinar. Nunca li nada desse autor, nem conheço sua forma. Vou ler o Grande Gatsby para o desafio (foi até uma dica sua - autor com a mesma letra do meu nome).

Mas, confesso que não me atraiu muito a história. Bem, vamos ver se eu gosto do outro livro.
Beijos

Michelle disse...

Fla,
Acho que é mais fácil gostar do Gatsby (embora eu também tenha tido problemas com ele). Tomara que goste (ou vai me xingar pela indicação...rs)