sexta-feira, 14 de março de 2014

Resenha: Ficção de Polpa - Volume 4


Dando continuidade ao Mês do Suspense, hoje venho apresentar um livro que eu já estava curiosa para ler havia tempos. Como nos outros volumes da coleção 'Ficção de Polpa', temos 6 histórias de crime e mistério criadas por escritores de língua portuguesa (cinco brasileiros e um português), mais uma 'faixa bônus', que traz o trabalho de um renomado autor do gênero.

Antes de começar a falar sobre os contos, algumas palavras sobre o nome da antologia, que foi assim batizada devido às revistas de banca do estilo pulp do início do século XX, impressas em papel de baixa qualidade (daí o nome ‘pulp’ = polpa), dedicadas a histórias de fantasia e ficção. Esse tipo de leitura era uma forma de entretenimento rápido e divertido muito popular nos Estados Unidos, numa época em que a TV ainda engatinhava.

Vale dizer que a capa também segue o estilo pulp e, no fim do exemplar, há duas páginas falando sobre como foi definida a imagem. Bem bacana! Mas vamos ao que interessa: vou fazer uma breve sinopse da trama seguida pela minha opinião.

1. As Muralhas Verdes (Carlos Orsi)
Detetive é contratado por produtora de TV para descobrir qual dos 5 participantes do reality show assassinou um outro morador da ‘Casa de Vidro’. A ideia era solucionar o crime em 2 dias para que, quando a morte fosse ao ar, já fosse possível entregar o culpado à polícia.

O clima da história é noir, com um detetive meio antiquado que trabalha em bares com wi-fi liberado e fuma charutos fedorentos. A garota provocante surge na pele da produtora Ana Cláudia e atrai o investigador para o caso. A tal casa cercada por muralhas verdes é uma clara referência, como diz o texto, à obra 'Nós', do russo Ievguêni Zamyatin, uma ficção científica anterior a '1984' que também abordava a vigilância constante. A ideia de assassinato dentro de um reality show também foi explorada pela sueca Camilla Läckberg em 2006, no livro ‘O Estranho’. O mais bizarro de tudo é que mortes em programas desse tipo de fato já aconteceram (a mais recente foi esta semana - o suicídio de uma coreana).

2. A Conspiração dos Relógios (Yves Robert)
Mulher procura detetive de ‘casos especiais’ para resolver o mistério de combinações de números específicas que ela via toda vez que olhava para um relógio (números repetidos, sequências numéricas, pares e todo tipo de padrão). O detetive tenta convencê-la de que tudo não passa de coincidência, imaginação e teoria das probabilidades, mas então algo estranho acontece.

Gostei muito da história do autor português sobre o detetive que tenta fazer a cliente acreditar que é tudo obra da mente, quando, ele mesmo, tem como amigo imaginário um coelho gigante chamado Tobias. Intrigante e divertida.

3. A Aventura do Americano Audaz (Octávio Aragão)
O narrador faz a transcrição/tradução de um relato póstumo de John H. Watson encontrado em uma mala antiga que herdara recentemente. O documento trazia o caso da escuna que chegou ao porto sem nenhum tripulante, exceto um cadáver amarrado ao Leme, e da qual, segundo rumores, havia saído um enorme cão/lobo negro.

Sim, essa é uma história de Sherlock Holmes! Nessa homenagem a um dos personagens literários mais queridos do mundo, o autor cria uma trama sobre a tal escuna e quem seria o homem preso ao leme. Não pude aproveitar direito a leitura (que fiz no metrô), pois a história era cheia de detalhes que deveriam ser observados para seguir o raciocínio dos investigadores e desvendar o mistério. Me perdi em certas partes.

4. A Carne é Fraca (Rafael Bán Jacobsen)
História de Clemenciano, açougueiro bruto e orgulhoso de suas habilidades, que estava sempre contratando jovens ajudantes que desapareciam misteriosamente. É casado com Diva, mulher que tinha horror à frieza com que o esposo contava histórias de caça e abate. Em determinado momento, chega à propriedade do casal Tomás, sobrinho de Diva que passa uns tempos morando por lá e trabalhando como aprendiz no açougue.

A narração é feita pelos três protagonistas e diferenciada pelas fontes usadas no texto. Clemenciano não se manifesta diretamente; só o que temos são suas anotações em um caderno. Já Diva e Tomás se revezam contando suas versões da história a um inspetor. Logo fica claro que Clemenciano morreu e que estamos acompanhando uma investigação. O que teria acontecido? Adorei a forma como a trama se desenrola, mostrando aos poucos o que aconteceu, apresentando os diferentes pontos de vista para os fatos. Minha história favorita!

5. Agulha de Calcário (Carol Bensimon)
Vários personagens, que são identificados por suas características físicas ou atividades. Cada um deles narra um pouquinho da história e fornece peças do quebra-cabeça. Gradativamente, vamos descobrindo seus nomes e suas relações. Em comum, apenas o fato de todos estarem ligados ao Hôtel Detective, um estabelecimento francês que possuía quartos batizados com nomes de investigadores famosos e organizava expedições de mistério.

Não tenho muito o que falar sobre a história, já que é toda fragmentada e não-linear. O legal foi ir descobrindo quem era quem e o que faziam. Coloca o leitor no papel de detetive. Bem interessante.

6. Um dos Nossos (Carlos André Moreira)
Roszynski é o novato da Homicídios que enfrenta as piadinhas dos colegas de trabalho e a descrença por parte dos superiores ao começar a investigar o assassinato de um ex-policial, encontrado baleado em um muquifo localizado em uma área de tráfico de drogas. Mesmo sem receber apoio, ele segue seus instintos e acaba descobrindo muita sujeita em baixo do tapete da corporação.

O legal dessa história é que ela parece um episódio de CSI, mas sem todo o aparato tecnológico e as ações politicamente corretas. O cenário aqui é Porto Alegre e as condições são mais reais e próximas daquelas que veríamos na polícia brasileira: equipamentos meia-boca, pessoas passando pela cena do crime, usando canetas para mover objetos em vez de luvas. Uma ótima trama policial!

> Bônus: A Moeda de Dionísio (Ernest Bramah)
Em uma noite chuvosa, inspetor precisa descobrir se uma rara moeda grega é falsa. É encaminhado pelo numismata à residência de Max Carrado, que, na verdade, era um colega de faculdade que havia mudado de nome e sofrido um acidente que o deixara cego. Mas a perda da visão só amplificou os outros sentidos de Carrado, que demonstra assombroso poder de percepção e dedução.

História bem ao estilo ‘Sherlock Holmes’, baseada mais na observação de detalhes e inferências do que na investigação propriamente dita. Confesso que nunca tinha ouvido falar do autor (aliás, há poucas ocorrências de seu nome em português na internet) que, segundo o texto introdutório, era publicado na mesma revista que o detetive criado por Doyle, superando-o, inclusive, em faturamento (mas não em popularidade). Gostei desse primeiro contato.

Em geral, gostei muito das histórias e do formato do livro (que lembra páginas de jornal). Quero ler os outros volumes!

Este post faz parte do Desafio Literário Skoob 2014 - Mês de Março: Suspense. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DLSkoob2014, clique AQUI. 

Veja outros posts do especial Mês do Suspense!

2 comentários:

Maria Silvana Santana disse...

Oie Moça =)
caramba, estava olhando as tuas resenhas, só ler livros top, e diferente das minhas leituras, sou chorona por natureza ou seja romances na veia. rs

Beliscões da Máh ♥
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Michelle disse...

Maria Silvana,
É, nossos estilos de leitura são diferentes. Mas é legal se aventurar por caminhos desconhecidos às vezes, né?