LIVRO: Fahrenheit 451
Em
um futuro indeterminado e não muito distante, os livros foram considerados
instrumentos perigosos e condenados à extinção. Os encarregados de eliminá-los
são os bombeiros, que tiveram suas origens de salvamento e combate ao fogo
totalmente apagadas da memória das pessoas. Guy Montag é um desses incendiários profissionais de livros e tem
muito orgulho de sua profissão. No entanto, um dia ele conversa com sua
vizinha, Clarisse McClellan, uma
adolescente “estranha” e questionadora, e um incômodo incessante começa a
crescer dentro dele. Será que a garota sonhadora tem razão em suas maluquices e
que as pessoas estão vivendo uma mentira?
O
mote de “Fahrenheit 451” é bem conhecido e eu
já falei da história aqui no blog anteriormente, numa postagem sobre a graphic novel
de mesmo nome. Mesmo depois de ler a excelente versão em quadrinhos, continuei
com vontade de conhecer a obra original. Eis que neste mês o tema do Desafio
Literário Skoob é ‘ficção científica’ e achei o
momento ideal para mergulhar no universo distópico e muito palpável de Ray Bradbury.
O
que pude perceber é que, de fato, a graphic novel é uma adaptação bem fiel e
completa. Não há nada essencial no texto de Bradbury que tenha sido deixado de
fora. Por outro lado, foi um alívio perceber a escrita simples do autor, o que
tornou a leitura fluida e empolgante. Eu tenho receio de ler ficção científica
e ficar boiando. Já aconteceu algumas vezes, até mesmo quando encarei "Admirável Mundo Novo", que
se tornou um dos meus preferidos, mas exigiu muito empenho e paciência da minha
parte. Como eu disse, felizmente esse não foi o caso de "Fahrenheit".
E
continuo achando incrível e preocupante que as previsões de Bradbury se mostrem
cada vez mais verdadeiras. Ilusão de felicidade constante, busca de emoções rápidas
e extremas, isolamento, emburrecimento voluntário, perda do senso crítico...
sim, tudo isso é triste e real. E, ao que tudo indica, a tendência é só piorar.
“Clássicos
reduzidos para se adaptarem a programas de rádio de quinze minutos, depois
reduzidos novamente para uma coluna de livro de dois minutos de leitura e, por
fim, encerrando-se num dicionário, num verbete de dez a doze linhas (...).
A
escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e
as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas,
e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é o que
conta, o prazer está em toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma
coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e
porcas?"
Mais
um para minha lista de favoritos. Imperdível.
Assim
como mantive a curiosidade para ler o livro original, também resisti a assistir
ao filme antes de lê-lo. Na aclamada adaptação de Truffaut, com participação do próprio Bradbury no roteiro, Clarisse deixa de ser uma adolescente e agora é uma
professora temporária às voltas com testes para sua efetivação. No entanto, o
mesmo espírito livre e inquieto da garota do livro ainda vive na aspirante a
docente, o que acaba sendo um grande empecilho em sua carreira.
Com
exceção dessa mudança significativa e da ausência de Faber, companheiro de
Montag na revolução pretendida, em geral o diretor se mantém fiel ao livro.
Inegável, porém, é o visual dos anos 60, com suas cores berrantes e tecnologia
datada. É estranho perceber como as limitações de uma época afetam a forma de
contar uma história. Na minha cabeça, as casas teriam uma decoração mais
minimalista, com as tais telas em todas as paredes da sala, como descrito no
livro. No entanto, a ambientação é bem típica do período de produção do filme, com
a tela interativa se resumindo ao que hoje parece ser nossas TVs de LCD.
Mesmo
assim, há momentos de engenhosa criatividade, como quando os bombeiros fazem
uma demonstração de onde as pessoas costumavam esconder livros, e ainda uma
cena muito bacana, criada especialmente para o filme, em que o chefe dos
bombeiros encontra uma biblioteca, escondida em uma passagem secreta na casa de
uma das denunciadas, e começa a citar trechos de clássicos da literatura e
zombar dos conflitos de ideias entre os grandes pensadores.
Embora
não seja uma adaptação 100% fiel, é um bom filme. Recomendo.
Trailer Legendado:
5 comentários:
Gosto muito do livro, já do filme não gostei muito, mas não sei exatamente por quê.
A julgar por sua resenha você gostou bem mais do 451 do que eu.
Foi, também, a minha escolha para o DL deste mês.
Claro que eu fiquei super curiosa, ne?!
Adoro tanto esta sua coluna do blog, que me inspirou na postagem de hoje!
Linkei vc.
Bjks mil
www.blogdaclauo.com
Gosto bastante do filme!
Quanto ao livro, acho o plot maravilhoso, mas, ao contrário de você, achei o livro praticamente desprovido de estilo. A história é ótima, você avança ansioso, mas não consigo ver uma identidade na escrita, entende? O texto me pareceu como um roteiro. Mas acho que é só uma questão de gosto mesmo.
Beijinhos!
Oi, Mi, tudo bem?
Amo literatura distópica! Por isso, nem preciso dizer que adoro Fahrenheit 451, né?
Para falar a verdade, não me lembro como o livro afortunadamente caiu em minhas mãos. Devorei-o rapidamente, sem deixar de aproveitar cada linha. Em seguida, curiosa, procurei o filme. Gostei bastante, e concordo contigo. As cores sessentistas estão muito carregadas e isso me incomodou um pouco, porque meio que datou a obra, na minha visão.
É isso. Estava com saudades do seu blog. Vou tentar visitá-la mais vezes rs.
Beijão!
Postar um comentário