quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Leia o Livro, Veja o Filme: Garota Exemplar

LIVRO: Garota Exemplar

Na manhã do aniversário de 5 anos de seu casamento, Amy desaparece. Na sala de estar, sinais de luta. Nick Dunne, o marido, se comporta o tempo todo de forma estranha. Será que ele está envolvido no desaparecimento? Conforme as investigações avançam, as suspeitas sobre Nick aumentam, uma avalanche de mentiras vem à tona e descobrimos que a tal Amy está longe de ser a Garota Exemplar que todos juram conhecer.

O livro é dividido em três partes e, na primeira delas, acompanhamos a investigação intercalada com páginas do diário de Amy. Logo ficamos sabendo como o casal se conheceu, como foi o início do relacionamento e a evolução até o casamento. Ambos eram jornalistas e desfrutavam de toda a agitação nova-iorquina. Com a crise, Nick perde o emprego, o que também acontece pouco depois com Amy. Para piorar, os pais de Amy se veem falidos e precisam usar os fundos que haviam criado para a filha (musa inspiradora da série de livros infantis “Amy Exemplar” – que criou a fortuna da família) e Nick recebe a notícia de que sua mãe estava enfrentando um câncer em estágio 4. Sim, as desgraças sempre vêm em ondas. Sem emprego, sem dinheiro e com a doença da mãe de Nick em cena, o casal decide se mudar para a terra natal dele: Missouri.

Já sentiram o estresse, né? Amy, a garota cosmopolita acostumada a ser o centro das atenções, além de perder o emprego e ficar sem dinheiro, é arrastada para uma cidadezinha no meio do nada, onde não conhece ninguém, tem que lidar com o sogro desequilibrado, misógino e agressivo e com a sogra doente. Juntando os últimos trocados que tinha na conta, ela busca uma saída e financia a compra de um bar na cidade, a ser administrado por Nick e sua irmã gêmea, Margo. Nick reage como? Ficando fora de casa o tempo todo, ignorando a esposa quando estava presente, fazendo compras desnecessárias, arranjando uma amante.

Ou pelo menos é isso o que achamos até a parte dois, que nos revela uma Amy totalmente diferente daquela que havíamos conhecido até então. O primeiro ponto de virada do livro coloca as coisas sob uma perspectiva totalmente nova. Nem tudo o que parecia ser, de fato é. Nick realmente fez algumas das coisas que Amy havia anotado em seu diário e, obviamente, continua sendo um babaca, mas a forma como Amy lida com a situação é surrealmente extrema.

[Aviso de Spoiler]
OK, se você não leu o livro/viu o filme e não quer saber revelações importantes da trama, PARE AGORA DE LER. Geralmente, não gosto de dar spoilers, mas não consigo pensar em outra forma de explicar por que achei "Garota Exemplar" sensacional sem exemplificar com ações da história.

1- A protagonista do sexo feminino busca a vingança como uma ação, não como reação.
Explico: Sempre que uma mulher toma atitudes violentas ou drásticas em uma história é em resposta a algo que lhe aconteceu anteriormente (sofreu agressão, foi humilhada, trapaceada, enfim...). Amy faz tudo porque quer e porque pode. Só isso. Não precisa de razão que justifique seus atos.

2- A protagonista feminina é algoz, não vítima.
Este item tem relação intrínseca com o anterior. Em momento algum Amy é o sexo frágil. Ela pode fingir ser quando precisa usar o artifício para atingir seus objetivos, mas permanece no comando sempre, manipula todos os outros personagens com maestria. Isso fica claro no final ousado do livro.

3- A autora faz um retrato perfeito (embora amargo) de um casamento.
Sim, nem todos os casamentos são infelizes, assim como nem todos são harmônicos durante 100% do tempo. Gillian Flynn retrata o desgaste natural da relação (com alguns agravantes) e mostra que, não importa o quanto os outros achem que tudo é perfeito: apenas quem está dentro de casa, vivendo o relacionamento dia a dia, tem noção do que se passa realmente.

4- Sobre o final: achei perfeito. Doentio, sem dúvida, não poderia de ser outro modo. Amy continua encarnando a garota exemplar, manipula a polícia e a opinião pública, controla o marido e a cunhada. Grande parte dos comentários que reclamavam do livro (o que me fez ficar com o pé atrás antes da leitura) veio justamente de pessoas que acham a submissão de Nick inverossímil. Eu discordo. Para mim, é perfeitamente possível e compreensível. Ele é o bonzinho da história e, ao aceitar os termos de Amy, se coloca na posição de dominado (ele sempre foi dependente de mulheres: da mãe, da irmã, da policial, da amante) e protege não só a si mesmo, mas também ao futuro filho e à irmã (Margo provavelmente seria arrastada para o buraco junto com ele, como cúmplice, se Amy fosse contrariada).

Durante a leitura, antes de chegar à parte três, eu realmente cheguei a cogitar que Nick mataria Amy, mas daí teríamos um problema sério: ele se transformaria naquilo que mais odeia: o pai. E também me lembrei de um monte de comentários negativos sobre o livro porque, no final, a vigarista vence, gente dizendo que ela deveria morrer ou ir presa. Me desculpem por estragar a doce ilusão de vocês, mas o mal vence na vida real. Muitas e muitas vezes (me arrisco a pensar que na maioria das vezes).
[Fim do Spoiler]

"Assim como Amy tinha o crédito por me transformar em meu melhor eu, eu precisava assumir a culpa de ter feito a loucura brotar nela".

Suspense policial com thriller psicológico cheio de reviravoltas surpreendentes e um final ousado. Para quem não aguenta mais a mesmice.

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FILME: Garota Exemplar

De tantos comentários negativos sobre o livro, já o tinha riscado da minha lista de leituras, mas a notícia de que David Fincher faria a adaptação da história me fez rever minha decisão. O julgamento do cara por trás de “Seven”, “Clube da Luta”, “Zodíaco” e “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” deve valer alguma coisa, não? Me joguei na história de Gillian Flynn, que acabei adorando, e aguardei ansiosa pela estreia do filme.


Nas telas, Nick Dunne é vivido por Ben Affleck. À primeira vista, esse me pareceu um ponto negativo, já que o ator não é dos mais expressivos. No entanto, a escolha se mostrou 100% acertada, pois o Nick do livro corresponde exatamente àquele do filme: um cara bonito, porém não excessivamente belo, que tem lá seu charme, mas que tem que se empenhar para seduzir, contido em suas expressões, que não sabe muito bem como agir em público e acaba se portando de um jeito estranho.


Carrie Coon, que interpreta a gêmea de Nick, Margo, também convence como a irmã dedicada/melhor amiga que apoia o irmão sempre, independente das burradas, das mentiras e das consequências. A dupla de detetives responsável pela investigação do desaparecimento de Amy também está de acordo com a descrição do livro. Só senti falta do aprofundamento da relação familiar dos Dunne, o que explicaria um pouco melhor a  forte ligação entre os irmãos: o lar problemático com o pai violento que odiava todas as mulheres, a mãe submissa e protetora de Nick.


Mas, sem dúvida, a estrela do filme é Rosamund Pike, que dá vida a uma Amy linda, inteligente e amorosa que sofre uma transformação lá pela metade da projeção. Impressionante sua mudança física, postural e até de sotaque. Foi engraçado observar, no cinema, as reações das pessoas, que obviamente não conheciam a história, quando Amy mostra sua verdadeira face. Mais divertido ainda quando o polêmico final se revela.


Com um pouco mais de duas horas de duração, o filme transcorreu tão facilmente que nem senti cansaço ou sono (o que geralmente acontece com produções muito longas). Adorei a escolha dos atores e atrizes, a trilha sonora discreta (mais uma colaboração com Trent Reznor), a forma enxuta de contar a história sem alterações bruscas e sem tesourar eventos essenciais. Mais uma vez, Fincher ganhou minha atenção e meus aplausos.

Suspense de primeira. Mais um para minha lista de preferidos. Recomendado!


Trailer Legendado:

2 comentários:

Brunna Mancuso disse...

Eu lembro do pessoal andando no metrô com esse livro e a única coisa que eu pensava era "que capa bonita.. talvez um dia eu leia esse livro"... Agora que tem filme e que tá bombando, chegou a hora de ler! rs Não sabia que era o David Fincher que fez a adaptação.. isso me deu mais coragem de ver o filme tbm e aguentar a cara xoxa do Ben Affleck!

Ah, eu fiz uma tag One Lovely Blog Award no meu post dessa semana e te indiquei.. Estou curiosa pra ver suas respostas. :)

Beijoos

http://www.dobrodametade.com.br

Anônimo disse...

Eu fiquei suada de nervoso. E com medo. Primeiro de um. Depois do outro. E com mais medo ainda depois do final. Doentio. E genial!