Edward Prendick é um náufrago que,
prestes a perder as esperanças de resgate, é salvo por uma embarcação cuja tripulação é pouco amigável. Em determinado ponto da viagem, Montgomery, o homem responsável por
cuidar da precária situação física de Prendick ao ser tirado do mar, desembarca
em uma ilha junto com sua indesejável e barulhenta carga de animais. O capitão
da escuna aproveita então para se livrar do náufrago recolhido contra sua
vontade e o lança novamente nas águas a bordo do pequeno escaler, sem nenhuma
provisão. Desesperado por não poder permanecer na escuna nem acompanhar
Montgomery até a ilha, Prendick pensa em quão irônico e traiçoeiro pode ser o
destino. Para o seu alívio, Montgomery decide violar as regras e permite que
Prendick o siga até a ilha. O que parecia uma bênção para o náufrago logo se
mostra uma verdadeira maldição.
“A ilha do Dr. Moreau” é um clássico da
ficção científica de horror que já ganhou diversas adaptações para o cinema e
serviu de inspiração para incontáveis histórias que tratam dos resultados
catastróficos de brincar de Deus. No caso específico do livro de H. G. Wells, o responsável por lançar o
terror sobre a Terra é o Dr. Moreau
do título, um médico que realiza estranhos experimentos com animais e seres
humanos e que, tendo sido obrigado a deixar a Inglaterra por causa de suas
experiências envolvendo vivisseção, encontra em uma remota ilha tropical o
lugar perfeito para dar continuidade ao seu trabalho abominável.
A
escrita de Wells é simples e fluida e, mesmo se tratando de uma história de
ficção científica, não há termos estranhos ou inventados especificamente para o
livro. As 176 páginas da edição foram vencidas sem esforço, graças ao estilo
despojado da narrativa e também aos mistérios da trama, que me impeliram a continuar lendo ansiosamente para saber o que ia acontecer em seguida com o pobre Prendick
e com os bizarros moradores de ilha.
Na
verdade, as primeiras linhas, quando o protagonista ainda estava à deriva
no mar, já exprimiam tanta tensão que os capítulos foram passando e eu mal
percebi. O horror dá as caras já na escuna que resgata Prendick, com a
tripulação mal-humorada e desconfiada e com o peculiar assistente de
Montgomery, que tinha uma postura de símio e olhos penetrantes que refletiam a
luz. A algazarra dos animais que faziam parte da carga de Montgomery e os uivos
constantes durante a noite eram mais indícios do que viria mais à frente.
H.
G. Wells usa habilmente uma história de ficção científica para falar de temas
controversos e pertinentes, como a vivisseção e ética na ciência e na medicina (isso
lá nos idos de 1896!). Os atos repugnantes do Dr. Moreau levantam
questionamentos sobre os limites, as formas e as necessidades das pesquisas,
nos fazem pensar na empatia com outros seres vivos (humanos ou não) e no que
nos diferencia de outras espécies. Além disso, o autor ainda apresenta uma
complexa sociedade dos homens-animais, que pode ser vista como uma crítica à
religião e à organização social. Como se vê, bons motivos para ler esse livro é
que não faltam.
Duas referências bacanas a “Ilha do Dr.
Moreau”:
- “Os livros que devoraram meu pai” –
Nesta homenagem à literatura, Afonso
Cruz inseriu o cachorro Prendick, que guia o jovem protagonista da história pelos livros da biblioteca de seu falecido pai, que, na verdade, não havia
morrido, e sim desaparecido na tal ilha misteriosa.
- “Orphan Black” – Na recente série de
ficção científica que tem como mote a clonagem humana, em determinado episódio
um dos cientistas criadores do experimento presenteia uma garotinha com um
exemplar de “A ilha...”. Em outro episódio, descobrimos que o livro é a chave
de um mistério que envolve o futuro da protagonista.
“Lá
fora os uivos pareciam ainda mais altos. Era como se todo o sofrimento do mundo
estivesse concentrado numa única voz. E no entanto eu sabia que, se toda aquela
dor estivesse sendo experimentada no aposento ao lado por alguém sem voz,
acredito (e tenho pensado nisto desde então) que eu poderia conviver com ela. É
somente quando a dor alheia é dotada de voz e põe os nossos nervos à flor da
pele que a piedade brota dentro de nós.”
Preciso
dizer que o livro é sensacional e que me arrependo de não ter lido nada do
autor antes? Leiam!
2 comentários:
Oi Michelle!
Morro de vontade de ler esse clássico! E acho que não preciso dizer o quanto a sua resenha me motivou a lê-lo logo! :D
Orphan Black? #LOVE!!
:) Beijos!
Eu tenho 13 anos e estou interessada, gostaria de saber se a leitura é muito difícil ?
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