No
pequeno livro de 144 páginas estão reunidos três famosos contos de Fitzgerald:
“O Diamante do Tamanho do Ritz”, que
conta a história de um garoto do Mississipi que entra em contato com os
endinheirados da Nova Inglaterra e vive uma aventura inusitada ao passar as
férias na casa de um de seus novos amigos milionários; “Bernice Corta o Cabelo”, sobre a garota do interior que tenta se
ajustar aos costumes da cidade grande e entra em conflito com a prima popular;
e "O Palácio de Gelo", no
qual uma garota da Geórgia fica dividida entre um pretendente rico e suas
raízes sulistas.
Em "O Diamante do Tamanho do Ritz" conhecemos
John T. Unger, jovem de uma renomada
família do Mississipi que vai estudar em Boston, no colégio preparatório mais
caro do mundo. Lá, vive em um mundo completamente diferente e, embora
cultivasse boas relações com os colegas, sua origem sempre o separava dos
demais. Um dia, John conhece Percy
Washington, novato amigável que acaba convidando o amigo para passar férias
na casa de seus pais, em Montana. Animado, John aceita o convite e fica
embasbacado ao chegar à propriedade e se dar conta do nível de riqueza e
excentricidade da família do colega de classe. No entanto, o deslumbre dá lugar
ao medo, quando John finalmente percebe o que era necessário fazer para manter
a exclusividade do mundo perfeito.
“O diamante...” é simplesmente genial.
Não é à toa que se tornou um dos contos mais famosos de Fitzgerald. Juro que eu
não esperava encontrar em seu texto uma história de romance e suspense. Para
mim, essa é uma faceta totalmente nova do autor. Adorei!
“Palavras
pronunciadas rápido demais para serem compreendidas, unindo-se umas às outras –
John ficou escutando sem respirar, apreendendo uma frase aqui e outra
ali,–enquanto a voz falhava, voltava e falhava novamente - ora alta e incisiva,
ora colorida com uma impaciência lenta e indignada. Então uma convicção começou
a surgir para o único ouvinte, e conforme a compreensão tomou conta dele, um
jato de sangue percorreu suas artérias. Braddock Washington estava oferecendo
um suborno a Deus!”
Já
em “Bernice Corta o Cabelo” nos
deparamos com a garota do título, que vai passar férias na casa da prima
atrevida e de língua afiada, Marjorie.
Embora Bernice fosse inegavelmente
bela, não conseguia atrair a atenção dos rapazes nos bailes devido às suas
conversas chatas. Irritada, Marjorie lhe dá um ultimato: ou ela seguiria
cegamente suas ordens para fazer sucesso, ou deveria voltar para casa. Pensando
no quanto seria vergonhoso ter que encarar a mãe ao retornar antes do previsto,
Bernice aceita o desafio da prima. O problema é que acaba ficando tão
requisitada que desperta o ciúme de Marjorie e sentimentos de vingança.
Mais
uma vez, me surpreendi com o tema. Fitzgerald foi muito perspicaz ao descrever
a relação entre as primas e o intrincado jogo de sedução feminino, bem como a
batalha de egos. E, claro, como sou fã de histórias de vingança, me diverti
bastante com o desfecho.
“Aos
dezoito anos, as nossas convicções são colinas das quais olhamos; aos 45, são cavernas
dentro das quais nos escondemos”.
Por
fim, “O Palácio de Gelo” narra a
história de Sally Carrol, garota
sulista que se incomodava com a falta de ambição dos amigos e que, portanto,
declina propostas de casamento dos pretendentes locais em favor de um
concorrente ianque rico. Todavia, quando ela finalmente vai visitar a casa do
amado, no norte do país, enfrenta a frieza não só da neve, mas também dos
parentes dele. Percebe, então, que seria sempre vista como diferente e inferior
e passa por momentos de terror até se dar conta de que o dinheiro não bastava
para comprar sua felicidade.
“(...)
eu nunca poderia me casar com você. Você tem um lugar em meu coração que nunca
poderá ser ocupado por ninguém mais, mas se eu ficar amarrada aqui, vou ficar
sempre insatisfeita, vou achar que eu estou... me desperdiçando. Eu tenho dois
lados, você sabe. Há aquele lado velho e sonolento que você ama; e há uma
espécie de energia, um sentimento que me dá vontade de fazer as coisas mais
estranhas. Esta é a parte de mim que pode se tornar útil em algum lugar
diferente, a parte que vai continuar quando eu deixar de ser linda".
Este
foi o menos impactante, o que não quer dizer que seja ruim. Novamente, o
assunto é a atração do dinheiro e o preconceito contra os sulistas. A novidade
é o toque sobrenatural.
Fitzgerald, mais uma vez, enfatiza em
seus trabalhos o glamour da riqueza, ao mesmo tempo em que mostra o lado
inescrupuloso e fútil da classe mais abastada, e mostra os esforços dos reles
mortais para agradar aos mais importantes e entrar no seleto clube daqueles que
podem aproveitar tudo de bom que o dinheiro pode comprar. Os contrastes entre o
sul e norte dos Estados Unidos também ganham destaque. Entretanto, ao contrário
do enfado que senti ao ler os romances do autor ("O Grande Gatsby" e
"Este Lado do Paraíso"), desta vez a leitura fluiu fácil e consegui
saborear a crítica embutida no texto. Não sei se foi o formato das histórias,
se Fitzgerald realmente escreveu de um jeito diferente aqui ou se as diferenças
se devem apenas à tradução, só sei que, com os contos, o autor finalmente me
conquistou.
Histórias
intrigantes e rápidas de ler. Recomendo!
2 comentários:
A primeira vez que li O Grande Gatsby achei tão chato que abandonei a leitura. Quando peguei pela segunda vez, amei a história e se tornou uma das melhores leituras que fiz na vida. Acho que é a questão do "momento certo". Agora fiquei com medo de encarar os outros livros do autor, mas vou anotar sua dica.
Bjs
Do Fitzgerald só li "O grande Gatsby" mesmo e gostei. Não conhecia esses contos, fiquei com vontade de ler :)
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