Maria Margarita era a mais nova de
cinco irmãos e vivia na companhia deles e do pai inválido em um barraco muito
simples em um povoado do Atacama, no Chile, construído próximo às minas de sal.
Eram os anos 50 e, diante da falta de dinheiro e de opções de lazer, o pai de
Margarita decidiu fazer uma competição entre seus filhos, na qual cada um ia ao
cinema uma vez e, na volta, deveria contar a história para os demais. É assim
que a pequena Margarita, com seu talento para imitar trejeitos, criar cenários
e inventar detalhes, acaba se tornando a contadora de filmes.
A
princípio, a garota narrava histórias apenas para a família, mas conhecidos
tomaram conhecimento dessas sessões, comentários começaram a circular e, de
repente, a sala do barraco passou a ser pequena para tantos espectadores. E
quanto mais gente aparecia, mais a menina imaginativa se sentia à vontade e
caprichava na narração. Algumas pessoas preferiam a contação de história de
Margarita ao cinema. Como dizia um de seus irmãos, “embora o filme fosse preto e
branco e projetado em meia tela, essa menininha, compadre, parece contar em
technicolor e cinemascope”.
No
entanto, nem tudo são flores na vida de Margarita. Se, na infância, ela
conseguiu superar a pobreza e o abandono pela mãe, conforme os anos passam a
magia que envolvia seus dias se dissipa e, no lugar, surgem nuvens cinzentas,
que trazem a dureza do amadurecimento e o avanço tecnológico que invade a
pequena vila na forma de televisões.
A
primeira coisa que chamou minha atenção para “A Contadora de Filmes” foi a temática, claro. Quando comecei a ler, logo nas primeiras
páginas já fui fisgada pelo texto fluido e divertido de Hernán Rivera Letelier, que coloca nas palavras da narradora a
pureza e a sagacidade de uma menina observadora. Vale destacar a beleza da capa
e das páginas pretas com pequenas janelas de texto brancas, que lembram frames
de películas. O livro é lindo pela história e pelo acabamento.
“Naquele
tempo descobri que todo mundo gosta que alguém conte histórias. Todos querem
sair da realidade um momento e viver esses mundos de ficção dos filmes, das
radionovelas, dos romances. Gostam até que alguém lhes conte mentiras, se essas
mentiras forem bem contadas”.
História
que mescla momentos engraçados, nostálgicos e tristes. Recomendo.
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