Temos
uma pequena alteração na ordem dos posts, pois não consegui ir ao cinema ainda.
Então, hoje vou falar do livro 2 da Saga O Doador.
Ao contrário do universo asséptico e perfeito do início
da série, em “Gathering Blue” o
ambiente é mais próximo da nossa realidade. O povoado onde vive nossa
protagonista, Kira, é de gente
trabalhadora e pobre. E é por isso que, quando a mãe de Kira morre, a menina é ameaçada de expulsão por outros moradores, que já têm planos para
o terreno de sua casa. Sem família, correndo o risco de perder seu lar e ainda por cima
dependente de bengala, Kira não sabe o que será de seu futuro. Sua única saída
é apelar para o Conselho dos Guardiões da cidade e torcer para que eles decidam
a seu favor.
Como
eu disse no parágrafo introdutório, o mundo apresentado pela autora desta vez é
totalmente o oposto daquele visto no primeiro livro. Os habitantes do povoado
têm uma rotina dura, na qual as mulheres cuidam dos inúmeros filhos, que correm
como selvagens pelas ruas, e também se encarregam das plantações, da fabricação
de roupas e do comércio, enquanto aos homens cabe a responsabilidade de
adentrar a floresta para caçar. A mata é um local mítico e assustador que
delimita a cidade e abriga as feras que mantêm os supersticiosos habitantes
sempre no mesmo lugar. Aliás, foi em uma caçada que Kira perdeu o pai.
A mãe de Kira lutou muito para ficar com a filha: de
acordo com os costumes locais, a garota deveria ter sido levada embora, já que
tinha um problema físico e jamais poderia trabalhar como os outros. No entanto,
a menina ajudava como podia, colhendo alimentos na horta e juntando retalhos na
oficina de costura. Foi sua habilidade com as linhas e agulhas que a tirou do
sufoco após o falecimento da mãe. Na verdade, Kira não era apenas hábil; ela
tinha um dom. Assim, ela se torna “A
Tecelã” e, para desenvolver plenamente seu dom, ganha um quarto no
imponente prédio do Conselho, tendo como responsabilidade restaurar a túnica do
“Cantor”, na qual intrincados
bordados contavam toda a história da humanidade, com seus momentos de glória e
suas ruínas. O problema é que Kira sabia bordar, mas ainda não tinha aprendido
a tingir as linhas. E tinha mais uma dificuldade: nada no vilarejo poderia
gerar a cor azul. A busca pela cor do céu leva a menina enfrentar suas limitações
e o medo da floresta e a faz descobrir o que havia por trás da benevolência
do Conselho.
Em
comum com o primeiro livro, o fato de os personagens irem ganhando
sílabas nos nomes conforme atingem determinadas idades, os dons que alguns
deles possuem, o desconhecimento do resto do mundo além das fronteiras e a regra de 'mandar embora' os problemáticos (um bebê que não dormisse a noite toda, no 1o livro; uma garota com a perna atrofiada, no 2o livro). Se em “O Doador” a obediência dos cidadãos
era mantida com escutas nas casas e com a obrigação de relatar os sonhos, em “Gathering Blue” a submissão se dá pelo
medo das feras da floresta; no primeiro livro a noção de passado era muito vaga
e no segundo a história é registrada em uma túnica - mas em ambos os casos há
um evento anual que reúne toda a população para marcar a passagem de tempo.
Gostei
muito de ver como, embora o cenário e os personagens sejam totalmente distintos
daqueles do primeiro livro, Lois Lowry inseriu pequenos detalhes
que formam os elos de ligação entre as histórias. E adorei Matt, o garotinho remelento e brigão, amigo de Kira. Ele está sempre
acompanhado de seu cachorro pulguento, fala de um jeito todo errado e adora
bancar o valente, mas tem o coração de manteiga. Meu personagem favorito.
Uma
boa continuação para um livro bom. É possível ler este volume sem ler o
primeiro, mas recomendo a leitura de ambos.
Veja também:
Post do Filme: O Doador de Memórias
Resenha do Livro 1 - O Doador
Resenha do Livro 3 - Messenger
Resenha do Livro 4 - Son
Resenha do Livro 1 - O Doador
Resenha do Livro 3 - Messenger
Resenha do Livro 4 - Son
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