LIVRO: Orlando
A
história de Orlando começa na
adolescência, pouco antes dos 17 anos, no Século XVI. Ele era extremamente
bonito, mas tímido e um pouco desastrado, o que, segundo o biógrafo narrador do
livro, é uma característica frequentemente associada ao amor pela solidão. Todo
seu esplendor da juventude atraiu a atenção da Rainha Elizabeth 1ª, que queria reviver em Orlando as graças que
ela mesma perdia conforme o tempo passava. O nomeia, então, tesoureiro, o cobre
de joias e planeja uma carreira ambiciosa para ele. Infelizmente, os planos da
rainha são frustrados quando Orlando se apaixona por uma princesa russa
proibida.
Sasha, o amor impossível de Orlando, é
o início de sua transformação de menino em homem e também sua grande decepção
amorosa. Ele não entende porque ela teve que partir. Orlando cai em um
inexplicável sono profundo durante 7 dias e, para curar sua dor, se envolve
com prostitutas e dedica grande parte de seu tempo à escrita, o que acaba sendo
também um desapontamento. Por volta dos 30 anos, já havia colecionado decepções
suficientes com mulheres e poetas e decide se dedicar às duas únicas coisas
dignas de sua confiança: os cachorros e a natureza. Passa por um outro período
de sono de 7 dias e acorda como mulher.
A
parte da narrativa imediatamente posterior à transformação de Orlando é o ponto
alto do livro, quando ficamos conhecendo suas dúvidas e temores quanto à sua
condição de mulher. Inquietações e comportamentos sociais que ocupam a mente
feminina desde sempre de repente assustam Orlando. Ele fica chocado ao ver o
quanto estava sendo tolhido em suas opções e vontades quando muda de sexo, o
quanto as mulheres não são naturalmente belas, perfumadas e delicadas, o quão
devastador poderia ser um simples descuido de postura que deixasse seu
tornozelo à mostra, como a questão de gênero muda radicalmente a perspectiva de
mundo e, o pior: o quanto sua escrita era ainda mais desvalorizada por causa de
sua nova identidade.
Virginia Woolf reproduz períodos
marcantes da história da Inglaterra e mostra a transformação da sociedade ao
longo de 5 séculos e, por meio de seu protagonista, discute as diferenças entre
tempo real e tempo psicológico, além, claro, da questão de gênero e do papel do
biógrafo, que, assim como o historiador, tem como objeto de trabalho o tempo,
mas que pode distorcê-lo e fazer os recortes que julgar pertinentes para omitir
ou ressaltar trechos da vida de seus biografados.
Particularmente,
fiquei decepcionada com o livro. Não nego a relevância das questões levantadas
pela autora, mas, como história, me cansou. Principalmente o caráter fantástico
da trama. Tenho problemas com esse gênero literário, então, em certo momento,
eu não aguentava mais ler. Orlando é um personagem incrível, suas reflexões são
pertinentes, adoro sua paixão pelos cães e pela literatura e até estava lidando
bem com sua transformação miraculosa e com sua existência secular, mas em algum
momento comecei a achar chato e perdi o interesse. Só queria chegar ao fim do
livro.
Selecionei
dois trechos do amor do protagonista pelos livros:
“O
gosto pelos livros vinha de cedo. Quando criança, era à vezes encontrado à meia-noite
com uma página por terminar. Tomaram-lhe a vela, e ele criou vaga-lumes para
servir a seu propósito. Tomaram-lhe os vaga-lumes, e ele quase incendiou a casa
com um pau em brasa. para resumir, deixando que o romancista alise a seda
amarrotada e todas as suas implicações, ele eram um nobre afligido pelo amor à
literatura”.
“Um
cavalheiro tão distinto, diziam, não tinha a menor necessidade de livros. Que
os deixasse para os paralíticos ou os moribundos. Mas o pior ainda estava por
vir. Uma vez que a doença da leitura se apodera do organismo, ela o enfraquece
de tal modo que o torna presa fácil para o outro flagelo que reside no tinteiro
e grassa na pluma. I infeliz passa a escrever”.
Interessante
e questionador, mas não é meu estilo. Desculpe, Virginia. Este não me agradou.
FILME: Orlando
E
então que, depois que comecei a ler o livro para o Leituras Compartilhadas dos
Espanadores, percebi que o título faz parte da lista do projeto “Grandes Livros no Cinema”. Lá fui eu
conferir a adaptação.
Nas
telas, Orlando é vivido por Tilda
Swinton, que, com seu visual andrógino, não poderia ter sido escolha
mais perfeita para o papel. A narrativa não é totalmente cronológica, já que se
optou por dividir a vida do personagem em temas: Morte, Amor, Poesia, Política,
Sociedade, Sexo e Nascimento. Particularmente, gostei dessa forma de
apresentação.
Se,
por um lado, na versão cinematográfica, perdemos os comentários sagazes e as
divagações de Virginia Woolf, por outro nos tornamos testemunhas e cúmplices
de Orlando, que olha diretamente para o espectador e fala conosco.
O
visual do filme é muito bonito, principalmente na parte inicial, com a festa de
recepção à Rainha Elizabeth, quando
vemos o rio coalhado de embarcações iluminadas por velas enquanto um soprano
canta com sua voz angelical. Achei uma boa sacada colocar um homem (Quentin
Crisp) interpretando a rainha, já sinalizando as questões de gênero
que seriam tratadas a seguir.
Filme mediano. Considerando a decepção que tive com o livro, a adaptação até que foi
uma boa surpresa.
Este post faz parte do Projeto Grandes Livros no Cinema. Para ver a lista de títulos com os links das resenhas feitas, clique AQUI.
Trailer (sem legenda):
Trailer (sem legenda):
Um comentário:
Eu quero muito ler Orlando, mesmo imaginando que pode ser que eu não goste. Aliás eu desconfio que não vai ser todo livro da Woolf que irei gostar. Mas eu vi o filme na época que foi lançado e só lembro de ter achado bonito visualmente, como você comentou, não lembro se gostei.
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