segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Leia o Livro, Veja o Filme: Orlando

LIVRO: Orlando

A história de Orlando começa na adolescência, pouco antes dos 17 anos, no Século XVI. Ele era extremamente bonito, mas tímido e um pouco desastrado, o que, segundo o biógrafo narrador do livro, é uma característica frequentemente associada ao amor pela solidão. Todo seu esplendor da juventude atraiu a atenção da Rainha Elizabeth 1ª, que queria reviver em Orlando as graças que ela mesma perdia conforme o tempo passava. O nomeia, então, tesoureiro, o cobre de joias e planeja uma carreira ambiciosa para ele. Infelizmente, os planos da rainha são frustrados quando Orlando se apaixona por uma princesa russa proibida.

Sasha, o amor impossível de Orlando, é o início de sua transformação de menino em homem e também sua grande decepção amorosa. Ele não entende porque ela teve que partir. Orlando cai em um inexplicável sono profundo durante 7 dias e, para curar sua dor, se envolve com prostitutas e dedica grande parte de seu tempo à escrita, o que acaba sendo também um desapontamento. Por volta dos 30 anos, já havia colecionado decepções suficientes com mulheres e poetas e decide se dedicar às duas únicas coisas dignas de sua confiança: os cachorros e a natureza. Passa por um outro período de sono de 7 dias e acorda como mulher. 

A parte da narrativa imediatamente posterior à transformação de Orlando é o ponto alto do livro, quando ficamos conhecendo suas dúvidas e temores quanto à sua condição de mulher. Inquietações e comportamentos sociais que ocupam a mente feminina desde sempre de repente assustam Orlando. Ele fica chocado ao ver o quanto estava sendo tolhido em suas opções e vontades quando muda de sexo, o quanto as mulheres não são naturalmente belas, perfumadas e delicadas, o quão devastador poderia ser um simples descuido de postura que deixasse seu tornozelo à mostra, como a questão de gênero muda radicalmente a perspectiva de mundo e, o pior: o quanto sua escrita era ainda mais desvalorizada por causa de sua nova identidade.

Virginia Woolf reproduz períodos marcantes da história da Inglaterra e mostra a transformação da sociedade ao longo de 5 séculos e, por meio de seu protagonista, discute as diferenças entre tempo real e tempo psicológico, além, claro, da questão de gênero e do papel do biógrafo, que, assim como o historiador, tem como objeto de trabalho o tempo, mas que pode distorcê-lo e fazer os recortes que julgar pertinentes para omitir ou ressaltar trechos da vida de seus biografados.

Particularmente, fiquei decepcionada com o livro. Não nego a relevância das questões levantadas pela autora, mas, como história, me cansou. Principalmente o caráter fantástico da trama. Tenho problemas com esse gênero literário, então, em certo momento, eu não aguentava mais ler. Orlando é um personagem incrível, suas reflexões são pertinentes, adoro sua paixão pelos cães e pela literatura e até estava lidando bem com sua transformação miraculosa e com sua existência secular, mas em algum momento comecei a achar chato e perdi o interesse. Só queria chegar ao fim do livro.

Selecionei dois trechos do amor do protagonista pelos livros:

“O gosto pelos livros vinha de cedo. Quando criança, era à vezes encontrado à meia-noite com uma página por terminar. Tomaram-lhe a vela, e ele criou vaga-lumes para servir a seu propósito. Tomaram-lhe os vaga-lumes, e ele quase incendiou a casa com um pau em brasa. para resumir, deixando que o romancista alise a seda amarrotada e todas as suas implicações, ele eram um nobre afligido pelo amor à literatura”.

“Um cavalheiro tão distinto, diziam, não tinha a menor necessidade de livros. Que os deixasse para os paralíticos ou os moribundos. Mas o pior ainda estava por vir. Uma vez que a doença da leitura se apodera do organismo, ela o enfraquece de tal modo que o torna presa fácil para o outro flagelo que reside no tinteiro e grassa na pluma. I infeliz passa a escrever”.

Interessante e questionador, mas não é meu estilo. Desculpe, Virginia. Este não me agradou.

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FILME: Orlando

E então que, depois que comecei a ler o livro para o Leituras Compartilhadas dos Espanadores, percebi que o título faz parte da lista do projeto “Grandes Livros no Cinema”. Lá fui eu conferir a adaptação.


Nas telas, Orlando é vivido por Tilda Swinton, que, com seu visual andrógino, não poderia ter sido escolha mais perfeita para o papel. A narrativa não é totalmente cronológica, já que se optou por dividir a vida do personagem em temas: Morte, Amor, Poesia, Política, Sociedade, Sexo e Nascimento. Particularmente, gostei dessa forma de apresentação.


Se, por um lado, na versão cinematográfica, perdemos os comentários sagazes e as divagações de Virginia Woolf, por outro nos tornamos testemunhas e cúmplices de Orlando, que olha diretamente para o espectador e fala conosco.


O visual do filme é muito bonito, principalmente na parte inicial, com a festa de recepção à Rainha Elizabeth, quando vemos o rio coalhado de embarcações iluminadas por velas enquanto um soprano canta com sua voz angelical. Achei uma boa sacada colocar um homem (Quentin Crisp) interpretando a rainha, já sinalizando as questões de gênero que seriam tratadas a seguir.


Filme mediano. Considerando a decepção que tive com o livro, a adaptação até que foi uma boa surpresa.


Este post faz parte do Projeto Grandes Livros no Cinema. Para ver a lista de títulos com os links das resenhas feitas, clique AQUI.



Trailer (sem legenda):

Um comentário:

Lua Limaverde disse...

Eu quero muito ler Orlando, mesmo imaginando que pode ser que eu não goste. Aliás eu desconfio que não vai ser todo livro da Woolf que irei gostar. Mas eu vi o filme na época que foi lançado e só lembro de ter achado bonito visualmente, como você comentou, não lembro se gostei.